Publicado no Jornalistas Livres
Segue abaixo carta-resposta escrita pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano Contra o Golpe que explica a manipulação:
AO JORNAL FOLHA DE S. PAULO
Neste domingo, 18 de novembro, bolivianos e brasileiros ocuparam a avenida Paulista para se manifestar contra o golpe cívico-militar ao governo eleito de Evo Morales na Bolívia. Convocados por coletividades bolivianas de São Paulo e pelo Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano e Contra o Golpe, os milhares de manifestantes cantaram contra os golpistas Mesa, Camacho e Áñez; em solidariedade à resistência democrática do povo boliviano; em apoio ao presidente eleito Evo Morales; pela paz e em memória aos 23 indígenas mortos desde o início dos conflitos. Exibiram a Wiphala, bandeira símbolo das populações indígenas, queimada e desrespeitada em atos públicos pelos racistas golpistas.
A convocação explicitava claramente a postura da manifestação ao afirmar que “a luta do povo boliviano contra o golpe, contra Camacho, contra o fascismo, contra o racismo e a extrema direita, é uma luta que deve receber a solidariedade de todas as pessoas e da classe trabalhadora de todo o mundo que defendem as liberdades democráticas”. Tal postura era ainda reforçada pelo manifesto dos organizadores, que circulou por redes sociais e foi distribuído na manifestação, com os dizeres: “Abaixo o Golpe na Bolívia! Em defesa da democracia e dos povos originários da América Latina! Viva a resistência popular! Fora imperialismo da América Latina!”.
Hoje, segunda-feira, 19 de novembro, o jornal Folha de S. Paulo – que se vende como defensor da democracia, independente, crítico e apartidário – utilizou uma foto da manifestação na avenida Paulista, repleta de bolivianos, em reportagem com o título “‘Todos estão arrumando as malas para voltar’, diz refugiado boliviano” e o subtítulo “Segundo advogado, 1.500 pessoas deixaram a Bolívia por perseguição política no governo Evo”.
A reportagem da Folha de São Paulo não menciona, em nenhuma linha, a manifestação em São Paulo (salvo na legenda da foto); pelo contrário, inicia citando um ato público, no Acre, de supostos “refugiados bolivianos” comemorando a “queda do presidente Evo Morales”.
A reportagem da Folha de São Paulo não menciona, em nenhuma linha, que Evo Morales obteve mais de 70% dos votos dos eleitores bolivianos residentes no Brasil; pelo contrário, publica reportagem com o título “‘Todos estão arrumando as malas para voltar’, diz refugiado boliviano”.
A reportagem da Folha de São Paulo não menciona, em nenhuma linha, os gritos de “Evo no está solo” ou “Mesa, Camacho, Bolívia no te quiere” ou ainda “Áñez, racista, fuera de Bolivia” entoados durante quatro horas pelos milhares de bolivianos na avenida Paulista; pelo contrário, dedica meia página às acusações e aclamações de dois golpistas, um deles suposto “líder dos refugiados bolivianos no Brasil”.
A Folha de São Paulo engana e manipula ao ilustrar uma reportagem que dá voz a dois bolivianos golpistas com os rostos dos manifestantes bolivianos democráticos da avenida Paulista. Manifestantes estes silenciados pelo jornal, enquanto têm sua imagem utilizada de forma injusta e perversa.
COMITÊ BRASILEIRO DE SOLIDARIEDADE AO POVO BOLIVIANO E CONTRA O GOL
Fotos: Diego Baravelli, direto do ato em São Paulo