Folha tenta arrastar Eduardo Leite da direita para o centro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 14 de agosto de 2023 às 8:15
Eduardo Leite. (Foto: Reprodução)

Não é apenas equivocada, é quase uma fake news a longa reportagem de domingo em que a Folha tentou puxar Eduardo Leite para o centro, ao citá-lo entre os candidatos ao espólio de Bolsonaro.

A chamada da Folha informa:

“Eduardo Leite aposta em ritmo diferente de Zema e Tarcísio em especulações sobre 2026. Gaúcho insiste em moderação enquanto outros presidenciáveis tropeçam em polêmicas e crises”.

Manchete da Folha. (Foto: Reprodução)

Joelmir Tavares e Carolina Linhares assinam a matéria. Cometem o erro grave de tentar definir Leite como candidato centrista, moderado e diferente.

Leite é um tucano da direita do partido que preside, talvez à direita até de Aécio de Neves. Não há nada que o coloque ao centro, em nenhuma área.

Leite tem conexõe e afinidades com a extrema direita. Recebeu de Bolsonaro e ofereceu nos postos de saúde do Estado a cloroquina e o kit Covid, quando já eram rejeitados pela ciência e por outros governadores.

É privativista e vendeu até a Corsan, a companhia de água e saneamento do Estado, subavaliada e para uma única empresa candidata, num imbróglio que pode virar caso de polícia

Retira direitos de servidores. Não tem nenhuma iniciativa na área das liberdades e da diversidade (nem mesmo da afirmação de negros) que possa ser destacada.

É amigo do comando do MBL e participa dos seus congressos. Estruturou seu primeiro governo com pelo menos um terço de secretários de direita e extrema direita. E não dialoga com as esquerdas.

Não há posições públicas progressistas de Leite em relação a nada que esteja em debate e que seja considerado controverso, porque ele foge de questões que os desmascarem.

Jair Bolsonaro e Eduardo Leite em 2019. (Foto: Itamar Aguar/ Palácio Piratini)

Mas disse ao ser questionado em programa de TV, na campanha do ano passado, mesmo que tenha gaguejado muito, que é contrário ao aborto e à legalização da maconha.

A própria Folha, em manchete de 24 de junho desse ano, ao especular sobre candidatos de direita ao espólio de Bolsonaro, colocou Leite ao lado dos bolsonaristas Romeu Zema, Ratinho Júnior e Tarcísio de Freitas.

No dia 11 de agosto, o Globo abordou as ausências no lançamento do novo PAC, no Rio, e pôs Leite na mesma turma, com a seguinte manchete:

“De Tarcísio a Eduardo Leite, governadores de direita não estarão em evento de Lula hoje no Rio”

Leite está entre os governadores de direita porque é de direita, como Folha e Globo já haviam informado antes da estranha reportagem desse domingo na Folha.

A reportagem da Folha parece atender a uma encomenda para que Leite seja posto onde acha que deve estar, ao centro da política, quando é um reacionário de primeira grandeza na política, na economia e nos costumes.

Leite é bom de conversa como tucano fofo e assim tenta enrolar os que não o conhecem ou fingem não conhecer, incluindo repórteres ingênuos.

É ruim para o jornalismo. Porque todo jornalista deve saber que o moço foi bolsonarista assumido quando se elegeu governador em 2018.

E desde então, equilibrado no muro do tucanismo, passou a ser um bolsonarista envergonhado. A única coisa que, na cabeça de Leite, está de fato ao centro é o nariz.

Originalmente publicado no Blog do Moisés Mendes

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