O economista inglês Thomas Malthus já predizia a três séculos atrás que sem controle de natalidade, o mundo estaria destinado a fome. A tese ecoa até os dias de hoje, no entanto, a previsão de Malthus estava errado, já que desde a década de 1960, a produção de alimentos, auxiliada pelas inovações tecnológicas, supera o crescimento da população global ano após ano. Portanto, a fome não abandonou a humanidade. Com informações da Folha de S.Paulo.
“A população, quando não contida, cresce em progressão geométrica. A subsistência cresce apenas em progressão aritmética. Um pouco de conhecimento em matemática mostrará a imensidão da primeira potência em comparação com a segunda”, escreve ele em seu célebre “Ensaio sobre o Princípio da População”, de 1798.
Relatório mais recente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, indica que o percentual de pessoas que sofrem de subalimentação no mundo só cresceu nos últimos anos, indo de 8% em 2019 para 9,8% em 2021. Sendo assim, entre 702 milhões e 828 milhões de indivíduos não têm acesso às calorias mínimas necessárias para uma vida ativa e saudável.
Segundo o economista e estatístico da FAO, Carlo Cafiero, o problema está na desigualdade econômica, já que é o dinheiro que condiciona a obtenção de comida: “A princípio, é possível ter hoje um mundo livre da fome, porque há alimentos suficientes. A questão é a vontade política de dar ao tema a relevância que ele tem. Os governos precisam trocar suas palavras por ações efetivas”.
Segundo a FAO, a pandemia de Covid-19 fez com que 150 milhões de pessoas a mais do que o esperado sofresse de subalimentação.
Professora de sociologia da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e líder do grupo de pesquisa Alimento pela Justiça, a pesquisadora Renata Motta afirma que as duas crises ainda expuseram a vulnerabilidade do sistema de alimentação global, cuja ênfase no livre comércio e nas vantagens comparativas de cada região fez com que as dietas locais fossem se empobrecendo e se baseassem em poucas commodities, como trigo, milho e soja. Assim, quando um evento extremo afeta a produção ou a distribuição de um desses produtos, o sistema inteiro desmorona.
Segundo as projeções da FAO, a África deve abrigar a maior quantidade de pessoas subalimentadas até 2030, substituindo a Ásia.