O QUE VOCÊ PODE FAZER numa tarde de domingo em Londres?
No dia 2 de julho, uma boa resposta era ir ao Hyde Park ver Paul McCartney. Era uma tarde ensolarada, quente, daquelas em que os londrinos correm para os parques atrás da grama. O Hyde, no verão, é uma festa permanente. Você pode andar pelos seus caminhos sombreados, andar de pedalinho no lago Serpentine, comer num dos dois restaurantes. Ou pegar uma cadeira e ficar olhando para as pessoas, tantas delas de burca.
Ou então, como era meu caso e o de milhares de outras pessoas, pode ver Paul McCartney.
É o mesmo show que ele fará no Brasil em breve. Soberbo. Paul só canta aquelas músicas que a gente quer ouvir. Yesterday, Hey Jude, Long and Winding Road, coisas assim. E do jeito que nos acostumamos a ouvi-las. Recentemente, Paul acrescentou algumas canções de John e de George para homenagear os amigos mortos. É bom ver A Day in the Life e Something na voz de Paul.
Meses antes, eu entrevistara Paul num barzinho de Londres. Tive a oportunidade – única na vida — de agradecer a ele por tantas coisas boas que me proporcionou. Paul está em boa forma, lépido em seus 67 anos. Gosto tanto dele que não acho ridícula a tintura com a qual ele esconde o branco dos cabelos. Tem o humor inglês, fácil e frequente. Na entrevista, perguntei a Paul qual a música pela qual ele gostaria de ser lembrado no futuro, se tivesse que escolher uma apenas. Depois de uma breve hesitação, ele disse que era Maybe I’m Amazed, uma balada de amor que Paul fez no começo de seu romance com Linda e na qual sua voz oscila entre a doçura dele mesmo e a agressividade rascante de um de seus ídolos, Little Richard.
Convido você a ler o resto do texto ouvindo Maybe I’m Amazed.
Paul evidentemente gosta do que faz. Você vê que ele não está no palco atrás de moedas apenas. Ele atende prontamente aos pedidos de bis da platéia.
Isso me pegou de surpresa. Eu já estava indo embora rumo ao ponto de ônibus, depois de dois retornos de Paul, quando ouvi Yesterday.
Ele voltara mais uma vez, e sua voz iluminou minha caminhada para casa.
Este texto foi publicado no Diário do Centro do Mundo em 01 de novembro de 2010.