Os Conservadores, liderados por David Cameron, voltaram ao poder no Reino Unido em 2010, após a renúncia do então primeiro-ministro Gordon Brown. Catorze anos e cinco premiês depois, o partido enfrenta um grande risco de perder as eleições e o comando do governo britânico para os Trabalhistas, impactados pela crise econômica causada pelo Brexit.
Segundo um levantamento da BBC, o Partido Trabalhista possui 45% das intenções de voto, contra 23% do Partido Conservador. Analistas consideram improvável uma vitória do atual primeiro-ministro Rishi Sunak sobre Keir Starmer nas eleições de 4 de julho. “Se tivesse uma virada, seria histórica, mesmo”, comentou Kai Enno Lehmann, professor do IRI-USP, em entrevista ao Uol.
Apesar da recente melhora econômica, com a inflação em 12 meses desacelerando para 2,3% em abril, o professor Lehmann alerta que “o pior ainda está por vir”. Com a implementação de novas regras do Brexit para importação prevista para outubro, espera-se uma falta de produtos no mercado, o que pode agravar a situação econômica.
Klaus Guimarães Dalgaard, professor da UFSC, acredita que a convocação das eleições foi uma medida de desespero. “Os Conservadores tinham como certa a realização das eleições no outono, na expectativa de que Sunak teria números melhores. Antecipar o anúncio foi uma medida de desespero. É a única chance de ele sobreviver”, avaliou.
Dalgaard também destacou o pessimismo dentro do próprio partido: “Não consigo imaginar um cenário onde o Partido Conservador vai sair com uma maioria desta eleição. Alguns deputados anunciaram que não vão se candidatar novamente. Até o dia da eleição, vários outros vão fazer a mesma coisa”.
A saída da União Europeia foi aprovada em plebiscito em 2016, com 52% dos eleitores votando a favor do Brexit. A vitória levou à renúncia de David Cameron e à ascensão de Theresa May, que, embora tenha defendido a permanência, liderou o acordo de saída. Após repetidos fracassos em aprovar o Brexit no Parlamento, May foi substituída por Boris Johnson, que concretizou o Brexit em janeiro de 2020.
Desde então, a economia do Reino Unido tem enfrentado dificuldades. Os custos de vida e dos negócios aumentaram, a burocracia se intensificou e parte da mão de obra estrangeira deixou o país. Em 2019, o PIB britânico cresceu 1,6%; em 2023, a expansão foi de apenas 0,1%.
Para Dalgaard, muitos dos votos conquistados pelos Conservadores em 2019 foram de eleitores tradicionalmente Trabalhistas que apoiavam o Brexit. Colocar a saída da UE em xeque agora seria arriscado para Starmer, caso seja eleito primeiro-ministro. “Eles [favoráveis ao Brexit] fazem parte da base que vai elegê-lo. Ele só teria capital político para tentar algo do tipo em um eventual segundo mandato”, explicou.
A campanha eleitoral, que começa oficialmente em 30 de maio, não tem abordado diretamente o Brexit. Sunak tenta convencer a população de que a economia está próxima a uma reviravolta, enquanto Starmer aposta em promessas de maior estabilidade e redução nas filas de espera no NHS, o sistema público de saúde do Reino Unido.
“O Estado está falido, com queda na arrecadação todo ano. Não tem dinheiro para nada, e até por isso tem cortado gastos sociais, como o NHS. A economia está absolutamente um desastre. Vários países europeus estão crescendo bastante, só o Reino Unido continua em queda livre”, afirmou Dalgaard ao Uol.
Kai Enno Lehmann complementou: “Nada no país está melhor do que há cinco anos. A guerra [entre Rússia e Ucrânia] e a pandemia tiveram um impacto negativo no Reino Unido, assim como em todos os outros países. Mas a economia está patinando há anos, quase não cresce. Estamos no quinto primeiro-ministro, o quarto em cinco anos. A sensação é de que o partido está um caos”.
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