A entrevista à Folha Ilustrada é um novo capítulo de sua incontinência verbal e indigência intelectual.
“Ficar chateado ou mordido com o que a imprensa escreve é uma ingenuidade. Porque é o veículo do qual a gente tem de se valer, e tentar driblar, para colocar nosso produto na praça”.
Isso é Lobão numa entrevista dos anos 90. É o que ele sempre fez em sua carreira: se autopromover a qualquer custo para vender seja lá o que for. Desta vez foi na Folha Ilustrada, numa entrevista sobre o lançamento de seu novo livro de “ensaios”.
Bateu em Dilma Rousseff (“Ela foi terrorista. Ela sequestrou avião, ela pode ter matado. Como que ela pode criar uma Comissão da Verdade e, como presidenta, não se colocar?”), no PT (“Esses que estão no poder, Dilma, Emir Sader, Franklin Martins, Genoíno, estavam na luta armada. Todos esses guerrilheiros estão no poder. Porra, alguma coisa está acontecendo!”), na Tropicália e na Bossa Nova (“Sempre tive muito desinteresse pela Tropicália. Tom Zé, Jards Macalé e João Donato sempre foram melhores do que os que estão aí hoje representando o movimento, tanto o da bossa nova quanto o da Tropicália”), no rap (“Os Racionais são o braço armado do governo, são os anseios dos intelectuais petistas, propaganda de um comportamento seminal do PT. Não acredito em cara ressentido”).
Lobão é um caso clássico de hiperativo que, para desavisados, passa por inteligente, corajoso ou algo assim. É o famoso sujeito que “não tem papas na língua”. O mesmo baterista que agora enxerga comunistas debaixo da cama e execra Lula já votou em Lula duas vezes, como admitiu para a Playboy em 2000. Fez campanha, aliás, em 89, no Domingão do Faustão, solando o jingle (o vídeo foi misteriosamente retirado do ar).
O mesmo Lobão que virou um – vá lá – baluarte do conservadorismo afirmou: “Eu me considero um ser prioritariamente anárquico. Mas acredito que precisamos de algo virado para o social porque senão a gente entra na idade da pedra, no extremo de exclusão. A gente está sendo governado por tecnocratas que vêem tudo através de números e estatísticas. Eu teria como ideal um governo como o da Holanda: social, apesar de ser um país de tradição mercantilista. Já passei por lá: você vai a um hospital público e é uma coisa maravilhosa”.
O mesmo assassino da MPB já declarou que “essa atrofia que a gente está vivendo nem a ditadura militar nos anos 60 conseguiu. Porque ainda assim tivemos Gláuber Rocha, Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil”.
Ok. Digamos que Lobão mudou de ideia, o que é um direito elementar dele. Mas Lobão sempre muda de ideia, de acordo com a plateia e o momento. A virada “ideológica” de Lobão é tão autêntica quanto um hambúrguer de soja. Como ele sofre de incontinência verbal, é garantia de que alguma coisa absurda e barulhenta vai sair de uma conversa. Suas análises não têm estofo, são como um trovão no vazio. Ele cita mal escritores e filósofos. E, de maneira esquizofrênica, tenta emular Caetano Veloso, seu desafeto, pleiteando um lugar de “músico e intelectual”.
A única coisa realmente genuína nas diatribes de Lobão, com a qual ele costuma ser coerente, é seu ódio doentio de Herbert Vianna, o líder dos Paralamas, a quem ele acusa há 30 anos de ser seu plagiador e de ter, basicamente, arruinado sua vida. Herbert, elegante e sabiamente, sempre se recusou a comentar. Com Mano Brown, dos Racionais, vai ser diferente, pelo jeito. Brown deixou um recado no Twitter. “Tô sempre no Rio de Janeiro, se ele quiser resolver como homem, demorô!”, escreveu. “Ele, que pregava a ética e rebeldia, age como uma puta para vender livro”.