Em 2014, quando estive no município de Cláudio para uma reportagem sobre o aeroporto que o governo de Aécio Neves tinha feito na fazenda de um tio dele, o Ministério Público do Estado se preparava para arquivar o caso.
O principal motivo para não levar adiante o inquérito civil era um ofício do prefeito da cidade, que assegurava ter a chave do aeroporto e o controle de acesso.
Com isso, desmentia uma reportagem da Folha de S. Paulo que denunciou o gasto de 14 milhões de reais do Estado de Minas Gerais num equipamento que ninguém na cidade sabia se era público ou privado.
No âmbito nacional, a barra foi limpa à época com um parecer de quatro parágrafos do advogado Carlos Mário Veloso, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, que avalizou o procedimento de construção do aeroporto.
Quatro anos depois, o mistério do aeroporto de Cláudio ganha mais uma chance de ser desfeito hoje, quando Frederico Pacheco de Medeiros — o primo de Aécio, aquele que foi preso depois de buscar dinheiro vivo na JBS — prestará depoimento a Promotoria do Patrimônio Público, no Ministério Público do Estado.
Naquela época, pouco antes da prisão, Frederico foi flagrado em uma escuta telefônica da Polícia Federal numa conversa sobre o aeroporto.
Um homem pergunta a Frederico, conhecido como Fred:
“Se o Duda tá descendo no avião, alguém vai abrir o portão para ele ou não?”
Frederico responde:
“Sim, já deve ter aberto. Ele já deve ter saído e já deve ter fechado.”
O interlocutor — até agora desconhecido — indaga:
“E quem é essa bênção de pessoa?”
Frederico, mais uma vez, responde:
“Deve ser o segurança de Aécio”.
“Ah, ele tem a chave?”, pergunta o interlocutor.
“Deve ter. Estou imaginando na condição de alguém ir lá abri-lo. Eu não sei nem se vai, mas deve. Passa lá na porta”, diz Frederico.
Aécio é uma sombra do político que foi à época em que Frederico foi flagrado nesta conversa.
Mas tenta sobreviver com uma candidatura a deputado federal que não empolga, como revela sua rede social.
Sua página no Facebook tem mais 4 milhões de curtidas — a maioria do tempo em que disputava a eleição para presidente —, mas suas postagens mais recentes tem pouca repercussão.
Ontem, por exemplo, postou o vídeo de um sanfoneiro que canta música em sua homenagem, e a publicação não teve nem 100 curtidas.
Sem popularidade, Aécio, no entanto, não pode ser esquecido, daí a importância da reabertura do inquérito sobre o aeroporto.
O senador ainda tem poder na sombra — ele é Antônio Anastasia.
Mas poder em que grau?
Poderemos saber hoje, com o depoimento de Frederico.
Aécio disse a Joesley Batista que o primo era o tipo de vassalo que poderia matar antes que delatasse.
O tom era jocoso, mas revelador do tipo de poder que tinha sobre o primo.
Hoje se saberá se Frederico ainda tem medo de morrer pelas mãos de Aécio.
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Abaixo, a gravação e que Aécio fala que mataria Fred antes da delação: