Fred, o primo de Aécio, ainda tem medo de morrer se delatar? Saberemos hoje. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 13 de setembro de 2018 às 10:31

Em 2014, quando estive no município de Cláudio para uma reportagem sobre o aeroporto que o governo de Aécio Neves tinha feito na fazenda de um tio dele, o Ministério Público do Estado se preparava para arquivar o caso.

O principal motivo para não levar adiante o inquérito civil era um ofício do prefeito da cidade, que assegurava ter a chave do aeroporto e o controle de acesso.

Com isso, desmentia uma reportagem da Folha de S. Paulo que denunciou o gasto de 14 milhões de reais do Estado de Minas Gerais num equipamento que ninguém na cidade sabia se era público ou privado.

No âmbito nacional, a barra foi limpa à época com um parecer de quatro parágrafos do advogado Carlos Mário Veloso, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, que avalizou o procedimento de construção do aeroporto.

Quatro anos depois, o mistério do aeroporto de Cláudio ganha mais uma chance de ser desfeito hoje, quando Frederico Pacheco de Medeiros — o primo de Aécio, aquele que foi preso depois de buscar dinheiro vivo na JBS — prestará depoimento a Promotoria do Patrimônio Público, no Ministério Público do Estado.

Naquela época, pouco antes da prisão, Frederico foi flagrado em uma escuta telefônica da Polícia Federal numa conversa sobre o aeroporto.

Um homem pergunta a Frederico, conhecido como Fred:

“Se o Duda tá descendo no avião, alguém vai abrir o portão para ele ou não?”

Frederico responde:

“Sim, já deve ter aberto. Ele já deve ter saído e já deve ter fechado.”

O interlocutor — até agora desconhecido — indaga:

“E quem é essa bênção de pessoa?”

Frederico, mais uma vez, responde:

“Deve ser o segurança de Aécio”.

“Ah, ele tem a chave?”, pergunta o interlocutor.

“Deve ter. Estou imaginando na condição de alguém ir lá abri-lo. Eu não sei nem se vai, mas deve. Passa lá na porta”, diz Frederico.

Aécio é uma sombra do político que foi à época em que Frederico foi flagrado nesta conversa.

Mas tenta sobreviver com uma candidatura a deputado federal que não empolga, como revela sua rede social.

Sua página no Facebook tem mais 4 milhões de curtidas — a maioria do tempo em que disputava a eleição para presidente —, mas suas postagens mais recentes tem pouca repercussão.

Ontem, por exemplo, postou o vídeo de um sanfoneiro que canta música em sua homenagem, e a publicação não teve nem 100 curtidas.

Sem popularidade, Aécio, no entanto, não pode ser esquecido, daí a importância da reabertura do inquérito sobre o aeroporto.

O senador ainda tem poder na sombra — ele é Antônio Anastasia.

Mas poder em que grau?

Poderemos saber hoje, com o depoimento de Frederico.

Aécio disse a Joesley Batista que o primo era o tipo de vassalo que poderia matar antes que delatasse.

O tom era jocoso, mas revelador do tipo de poder que tinha sobre o primo.

Hoje se saberá se Frederico ainda tem medo de morrer pelas mãos de Aécio.

.x.x.x.

Abaixo, a gravação e que Aécio fala que mataria Fred antes da delação: