O presidente da Caixa Federal, Pedro Duarte Guimarães, 51 anos, está sendo acusado de ter praticado assédio sexual contra funcionárias. A informação é do jornalista Rodrigo Rangel, do site Metrópoles.
No final de 2021, um grupo de funcionárias fez uma série de denúncias para contar tudo o que passaram. Elas trabalham ou trabalharam em equipes que tinham contato com o gabinete da presidência da Caixa.
As profissionais disseram que foram abusadas por Pedro Guimarães em momentos diferentes, sempre quando ocorriam compromissos de trabalho.
Em depoimentos, as mulheres contaram que foram tocadas nas partes íntimas sem permitirem, sofreram com abordagens inadequadas e receberam convites incompatíveis com as suas profissões.
O Ministério Público Federal abriu uma investigação, que está em andamento, sob sigilo, para averiguar o comportamento do presidente da Caixa. É a primeira vez que um caso de assédio sexual envolvendo um alto funcionário do governo Bolsonaro se torna público.
Muitos episódios ocorreram durante viagens realizadas por Guimarães como parte do programa Caixa Mais Brasil. De janeiro de 2019 pra cá, foram feitas 140 visitas em cidades de todos os cantos do país.
Confira alguns depoimentos feitos pelas mulheres que denunciaram o aliado de Bolsonaro:
“Dono das mulheres”
Ana afirma que, a depender da proximidade que tem com algumas das mulheres, Pedro Guimarães passa a se sentir “dono” delas. “É comum ele pegar na cintura, pegar no pescoço. Já aconteceu comigo e com várias colegas”, diz. “Ele trata as mulheres que estão perto como se fossem dele.” A reportagem teve acesso a registros que corroboram o relato, mas optou por não exibi-los para não expor a funcionária envolvida. Ana relata que, diante de negativas das subordinadas, ele insiste: “Ele já tentou várias vezes avançar o sinal comigo. É uma pessoa que não sabe escutar não”. “Quando escuta, vira a cara e passa a ignorar. Quando me encontrava, nem me cumprimentava mais”, completa.
“Discos voadores”
Dentro da Caixa, uma prática apontada como comum na atual gestão deu origem a um epíteto: “discos voadores”. Assim são chamadas as mulheres que, durante as viagens pelo país, despertam a atenção do presidente do banco a ponto de ele chamá-las para atuar em Brasília. Por vezes, diz uma das mulheres, funcionárias são promovidas hierarquicamente mesmo sem preencher os requisitos necessários e acabam transferidas para a sede, por conveniência de Guimarães.
“Mulher bonita é sempre escolhida para viajar”
A escolha das mulheres que integram a comitiva de Pedro Guimarães nas viagens do programa Caixa Mais Brasil é feita diretamente pelo gabinete dele, denunciam as funcionárias. As selecionadas são comunicadas, segundo Ana, como quem recebe a notícia de que acabou de ganhar um prêmio. E o critério da seleção, diz Valéria, outra funcionária, é definido de acordo com as preferências de Guimarães: “Tem um padrão. Mulher bonita é sempre escolhida para viajar”. “Ele convida para as viagens as mulheres que acha interessantes”, afirma.
“Você gosta de sauna?”
Entre os relatos há algo que aparece em mais de uma oportunidade: convites, durante as viagens, para as funcionárias irem à piscina ou à sauna na companhia do presidente do banco nos horários de folga na agenda. “Ele me chamou para ir para sauna com ele. Perguntou: ‘Você gosta de sauna?’. Eu disse: ‘Presidente, eu não gosto’. Se eu tivesse respondido que gosto, ele daria prosseguimento à conversa. De que forma eu falo não? Então, eu tenho que falar que não gosto. É humilhante. Ele constrange”, diz Thaís. Ela afirma que, na mesma viagem, Guimarães a beliscou. Thaís diz que aquela foi uma das primeiras vezes em que foi destacada para viajar com o presidente da Caixa. “Ele praticamente nunca tinha me visto antes.” Beatriz, mais uma das funcionárias que se sentiram assediadas, relata que, depois de Guimarães puxar conversa sobre suas habilidades de nadador (na juventude, ele chegou a participar de competições), também recebeu um convite que classifica como estranho para nadar. “Eu falei que não ia”, diz. Ela afirma que recusou por ter entendido que havia segundas intenções no chamado.
“E se o presidente quiser transar com você?”
Cristina diz que, em outra viagem, duas funcionárias da equipe foram chamadas para ir à piscina do hotel encontrar Pedro Guimarães. Ao chegar lá, entenderam qual era a ideia. Primeiro, elas se sentiram constrangidas a assistir à performance dele na piscina. “Ele parecia um boto, se exibindo. Era uma espécie de dança do acasalamento”, diz ela. Depois, afirma, uma das mulheres ouviu uma proposta indecente, feita por uma pessoa bem próxima a Guimarães: “E se o presidente quiser transar com você?”.
Os outros depoimentos podem ser lidos aqui