Após a prisão do assessor especial da presidência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Paulo César Nascimento da Silva dentro da sede da agência em Brasília depois de uma condenação por estupro, funcionárias da Anvisa relataram outros casos de abusos cometidos por ele na empresa. As informações são do blog de Andréia Sadi, no G1.
Uma das servidoras da Anvisa, que pediu para não ser identificada, disse a GloboNews que as abordagens de cunho sexual por parte do assessor especial começaram em 2019, logo após ele tomar posse, nomeado pelo atual diretor-presidente Antônio Barra Torres.
Segundo a funcionária, o assessor insistia em abordagens inadequadas com cunho sexual na sede da Anvisa em Brasília, mas também em viagens a trabalho.
“Tem relatos de uma espécie de comportamento, como stalker, de perseguir as mulheres nos corredores, de ficar indo insistentemente nas salas arrumar assunto com as mulheres, que não são assuntos profissionais. Tem histórico de várias mensagens de telefone, um tanto quanto pouco usuais e nada profissionais. E buscava tocar no ombro, na cintura das mulheres, né? Das servidoras. Servidoras deixaram cargos comissionados para evitar contatos com Paulo César. Servidoras foram removidas para ficar mais distantes de Paulo César”, afirmou.
Muitas vítimas não teriam procurado os órgãos de controle da agência com medo de retaliação e perda do cargo e também porque o assessor tinha o hábito de andar armado durante o expediente.
Questionada se o diretor-presidente tinha conhecimento do comportamento e das denúncias, a servidora revelou que uma colaboradora que relatou os assédios de Paulo César foi retirada da função.
“A primeira servidora que levou ao conhecimento dele [Barra Torres] foi exonerada do cargo de comissão na sequência”, disse. A Anvisa nega qualquer exoneração por este motivo.
Em nota, o movimento “Nós por elas Anvisa”, grupo de servidoras que busca a equidade de gênero na agência, afirmou que o assessor foi autor de diversos episódios de perseguição e assédios que foram silenciados por gestores.
A Diretoria Colegiada da Anvisa disse também que os relatos de colaboradoras que foram divulgados até mesmo na imprensa mostram que o órgão não foi capaz de “prevenir, identificar e coibir, eventuais casos de assédio sexual e moral, apesar da existência de estruturas organizacionais, destinadas a esse acolhimento”.
Paulo César Nascimento também responde na Justiça do Distrito Federal a um processo por violência doméstica e cárcere privado contra uma ex-namorada. Os episódios, segundo a denúncia do Ministério Público, ocorreram quando ele já estava no cargo de assessor especial da presidência da Anvisa.