Futebol feminino ganha visibilidade, mas espaço das mulheres é pequeno no esporte

Atualizado em 24 de agosto de 2022 às 12:06

As mulheres representam uma porção ínfima dos dirigentes e são minoria até entre técnicos do futebol feminino

Fonte Wikimedia

No país que inventou o futebol, a festa é das mulheres. A final da Euro Feminina 2022, disputada em 31 de julho no Estádio de Wembley, em Londres, terminou em 2 a 1 para as anfitriãs, o que permitiu que os ingleses, finalmente, gritassem “it’s coming home!”.

Grandes celebrações pelo título inédito se seguiram ao longo da Inglaterra. A impressão que ficou é que os ingleses comemoraram a conquista da seleção feminina da mesma maneira que teriam feito se se tratasse da seleção masculina – um sintoma promissor do espaço que o futebol feminino tem ganhado no mundo nos últimos anos.

O sucesso de repercussão da Euro Feminina não é um fato isolado, e se reflete na Copa do Mundo Feminina de 2019 e no Campeonato Brasileiro Feminino. O desenvolvimento do nível técnico e o aumento de visibilidade também é demonstrado no volume de apostas nas partidas disputadas por mulheres, o que pode ser visto através do Betano código promocional, que dá acesso aos odds em diversos torneios femininos nacionais e internacionais.

A final entre Inglaterra e Alemanha foi a partida de futebol feminino mais assistida da história do Reino Unido, com 23,3 milhões de visualizações. A competição mobilizou celebridades, apostadores e a imprensa. O incentivo ao futebol feminino se tornou pauta entre os candidatos à liderança do Partido Conservador.

De qualquer forma, por mais rápida que seja hoje em dia a ascensão do futebol feminino, a modalidade ainda está longe de receber a mesma visibilidade que sua versão masculina.

As jogadoras da seleção do Brasil, que foram campeãs da Copa América contra a Colômbia no mesmo fim de semana da conquista inglesa, iniciaram a campanha #BotaElasNoJogo, para serem reconhecidas pelos games da franquia Fifa. Ao invés de representar as jogadoras reais, o game utiliza nomes fictícios para representar a seleção feminina brasileira.

Espaço também é pequeno fora do campo

Fora dos gramados, a disparidade entre a participação masculina e feminina em várias posições relacionadas ao futebol é muito acentuada. Um levantamento feito em 2021 pelo site Gênero e Número, especializado em estatísticas de gênero, analisou as nominatas das gestões dos 20 clubes que jogavam a Série A do Brasileirão e de cinco clubes que jogavam a Série B.

O levantamento concluiu que, dos 255 nomes encontrados (entre presidentes, vice-presidentes, secretários, superintendentes e diretores), apenas sete eram mulheres – o que corresponde a 2,7% do total. Duas delas estavam no Cruzeiro e outras duas, no Internacional. Flamengo, Sport e Avaí tinham uma cada.

“A gente tem dois mundos aí: o mundo do futebol e o mundo dos negócios. É a estrutura do machismo funcionando nestas duas vertentes: em um esporte que foi naturalizado no masculino, com os ideais de virilidade, de força, e no mundo dos negócios, em que até hoje — e basta observar os dados do IBGE em relação a cargos de gestão, cargos de direção, de decisão de forma geral — as mulheres são uma diminuta parcela”, afirmou ao Gênero e Número Soraya Barreto Januário, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco e autora do livro “Mulheres no Campo: o Ethos da Torcedora Pernambucana”.

A edição atual do Brasileirão feminino começou com apenas cinco técnicas mulheres entre os 16 clubes que disputam a competição: Roberta Batista, da Ferroviária, Tatiele Silveira, do Santos, Patrícia Gusmão, do Grêmio, Lindsay Camila, do Atlético-MG, e Rosana Augusto, do Red Bull Bragantino. Na Copa do Mundo Feminina de 2019, nove das 24 seleções classificadas para o torneio eram comandadas por técnicas mulheres.

A primeira mulher a ter seu nome registrado pela CBF como técnica foi Nilmara Silveira. Em 2018, como técnica da equipe masculina do clube paulista Manthiqueira, ela afirmou ao UOL: “Eu me via, sonhava às vezes que poderia jogar pela seleção brasileira, mas jamais pensei em ser treinadora, ainda mais de um time masculino, onde tem muito preconceito e a barreira é muito grande”.

Nilmara contou que, no início da sua carreira, ouviu o técnico de um time adversário afirmar que não aceitaria perder para uma mulher. Mas, descartando esse episódio, ela relata uma aceitação tranquila: “Com os jogadores, não tive muita dificuldade porque eu os conhecia da base e da escolinha do São Caetano e eles conheciam meu trabalho. E o presidente me deu total liberdade pra exercer o meu trabalho sem pressão. Achei que seria mais difícil, até que não foi tanto”.