Gentili, sua assistente negra e o apresentador de TV demitido por racismo nos EUA

Atualizado em 14 de março de 2015 às 16:56
Juliana e Gentili
Juliana e Gentili

 

A Univisión, maior rede de TV hispânica nos EUA, não titubeou em demitir uma de suas estrelas, Rodner Figueroa, na semana passada.

Figueroa fez um comentário racista sobre a primeira-dama Michelle Obama num programa exibido em Miami. Michelle, disse ele, poderia fazer parte do elenco de “O Planeta dos Macacos”.

Foi dispensado em menos de 24 horas. Escreveu um pedido de desculpas para a mulher de Barack Obama e para seu público. Ninguém se chocou. Não houve nenhum debate insano sobre “liberdade de expressão” etc.

No Brasil, temos um apresentador de talk show que já ofereceu banana a um negro, comparou jogadores de futebol negros ao King Kong e chamou uma candidata a Globeleza de “Zé Pequeno”.

Jamais se desculpou. Preferiu sempre se vitimizar, falando que é perseguido por esquerdopatas ou coisa parecida. Racismo? Imagina.

Com essa ficha corrida, é curioso que Danilo Gentili tenha uma negra como assistente de palco no The Noite.

Juliana de Oliveira entrou para a turma de Gentili em junho de 2013, após vencer o “Teste do Sofá”, promovido para escolher a assistente do programa “Agora é Tarde”, na Band. Uma das únicas negras do certame e com silhueta distante dos padrões televisivos, disputou o posto com outras 26 moças e uma cadela golden retriever.

Sem dúvida foi uma vitória memorável para ela. Juliana saiu direto de Araçariguama, cidade paulista com 17 mil habitantes onde morava e era garçonete, para trabalhar na televisão. Está realizando o sonho que milhares de modelos-atrizes nunca irão concretizar, especialmente as negras. Carismática, tem quase 30 mil fãs no Facebook e 200 mil seguidores no Twitter.

Quem mais lucra com a presença de Juliana, no entanto, é o próprio Gentili. Com ela, Danilo Gentili pode vomitar seu preconceito e se abrigar no clichê de que “não é racista porque tem amigos negros”.

Gentili se diz conhecedor do americano Richard Pryor, um dos maiores humoristas de todos os tempos. Mas é impossível acreditar que ele aplaudiria caso Juliana se comportasse como Pryor.

Pryor não tinha nada de Uncle Tom, como os americanos chamam os negros submissos aos brancos, e sabia inserir críticas pesadas ao racismo em suas apresentações.

Nunca foi bom moço e enfrentou problemas com cocaína e álcool, chegando a atear fogo ao próprio corpo durante um surto. Politicamente incorreto, fez críticas sociais lúcidas, agressivas e ao mesmo tempo bem humoradas.

Uma vez, durante entrevista ao “Tonight Show”, de Johnny Carson, aproveitou para dar um recado espirituoso à polícia de Detroit, cidade onde passaria uma temporada gravando um filme: pediu à polícia para não atirar nele acidentalmente quando estivesse fazendo sua corrida matinal.

Dá para imaginar Juliana Oliveira falando algo semelhante sobre, por exemplo, a violência policial que mata jovens negros no programa de um reacionário como Danilo Gentili? Difícil. O chefe dela iria cortar na hora e falar que isso é “coitadismo”, coisa de “esquerdopata” e “feminazi”.