É ou não é um caso raro de autismo político?
Nem 24 horas após suar sangue para sobreviver à entrevista ao Jornal Nacional, quando de novo passou longos minutos defendendo Laurence Casagrande, ex-secretário de Transportes de seu governo em São Paulo e ex-presidente da Dersa, preso pela Lava Jato sob suspeita de corrupção nas obras do Rodoanel, Geraldo Alckmin foi ao Twitter para escrever a seguinte pérola.
– Nós [PSDB] não vamos para a porta da delegacia defender criminoso.
Na porta delegacia não vai – até porque a solidariedade do tucano não segue além da página 3.
Que o diga seu ex-vice, Cláudio Lembo, que assumiu o governo em 2006, quando Geraldo se licenciou para sua primeira disputa à presidência, e logo de cara enfrentou a rebelião do PCC impondo toque de recolher em todo o Estado.
Seis anos depois, em 2012, recepcionei Lembo num programa que dirigia na rádio Tupi FM. Ele chegou cedo e ficamos conversando. Contou coisas sobre Geraldo que até Deus duvida.
Em certo momento, meu chefe pediu educadamente para que eu fosse buscar o espelho do programa, com a nítida intenção de mudar de assunto.
Lembo me segurou pelo braço.
– Deixa o rapaz ouvir, é importante. Certas coisas precisam ser ditas para não caírem no esquecimento.
E então contou que foi tão humilhado pelo isolamento imposto por Geraldo que em diversos momentos pensou em renunciar.
– Só não renunciei para evitar uma crise institucional, disse.
A história do enfrentamento ao PCC, quando Cláudio Lembo sequer recebeu um telefonema do ex-chefe, nem para saber como estavam as coisas, é velha conhecida – foi matéria em todos os jornais da época.
São fatos que se não servem para explicar os motivos de Geraldo patinar nas pesquisas, ao menos ajudam a traçar o perfil do ex-governador que disputa pela segunda vez a presidência.
Para os militantes fãs, Geraldo é o gigante que, sozinho, vem carregando eleitoralmente o PSDB paulista nas costas desde a morte de Mário Covas, em 2001.
Os desafetos dizem que seu estilo de “jogar parado” transformou o partido em uma seção cartorial, onde a militância só é convocada para segurar bandeira nas caminhadas pela periferia e chancelar, nas convenções, as decisões que são acordadas nos bastidores, muitas vezes na madrugada anterior à votação.
Se vai carregar o PSDB nacional nas costas, ou naufragar de novo, vamos saber no domingo, sete de outubro. O que temos pra hoje é que Geraldo nunca foi tão Geraldo como nesta eleição.
Sozinho, percorrendo o país com sua maleta, vem sendo comparado por amigos ao mineirinho inocente que foi a Las Vegas, encarou o cassino pela primeira vez e revolveu apostar todo o seu dinheiro na roleta – preto 17.
– Talvez por timidez ou dificuldade mesmo de fazer articulação, ele jogou tudo na parceria com o Centrão para garantir o maior tempo de TV, disse ao DCM um aliado que prefere não se identificar. Se der certo, ok, tem chances. Caso contrário, desta vez seu destino provavelmente será o ostracismo político.
A campanha de TV começa nesta sexta. Como o mineirinho que foi a Las Vegas, o “filho pródigo” de Pindamonhangaba colocou todos os seus ovos na mesma cestinha, sem considerar as dicas de qualquer consultor meia-boca para diversificar e evitar o risco de perder tudo de uma vez só.
Se isso não é autismo político sinceramente quem tem de mudar de ramo sou eu.