Gerson Camarotti, da GloboNews, ganhou o prêmio da crônica mais idiota sobre a morte de Cony. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 8 de janeiro de 2018 às 19:19
Camarotti

Como sói acontecer nesses momentos, muitas páginas belas foram escritas a respeito de Carlos Heitor Cony por ocasião de seu passamento (eu amo esses eufemismos para a morte).

Claro que muita baboseira também.

No meio do festival de clichês, pieguices e puras idiotices, um texto de Gerson Camarotti, repórter de fala mansa da GloboNews, me chamou a atenção.

“É difícil pensar no jornalismo brasileiro sem Cony”, intitula-se o opúsculo. 

Com todo o respeito ao brilhantismo de Cony, o jornalismo brasileiro viveu sem ele e viverá depois dele sem maiores dificuldades.

Camarotti insiste no fator geracional.

“Por ser de outra geração, só comecei a acompanhá-lo na revista Manchete no início dos anos 80, quando ele já estava consagrado na profissão e no ofício de escritor. Mas nunca deixou de lado esse espírito de jornalista (?!?)”, afirma.

O apresentador confessa que não vai falar dos “traços mais conhecidos da biografia de Cony, como romancista premiado, ou das prisões durante a ditadura militar”.

A razão: “Outros jornalistas que viveram esse período difícil do Brasil ao lado de Cony podem falar com mais propriedade sobre essa passagem da vida dele”.

É a justificativa clássica de todo burraldino. “Eu não era nascido”.

Você não precisa ter sido parido, por exemplo, no século 18 para saber da Revolução Francesa, em 1940 para saber quem foi Pelé etc etc.

Gerson prefere contar uma história prosaica sobre quando Cony lhe enviou seus livros “com um bilhete afetuoso, que só os mestres podem (?!?) escrever”.

Vou poupar você do resto.

Para além desse besteirol sentimentaloide, nunca se ouviu falar de uma mísera ocasião em que Camarotti tenha citado Carlos Heitor Cony na TV ou em sua coluna no G1.

Nem uma frase, uma sacada, uma reflexão — algo, enfim, que tenha aprendido. Nada.

Como é que agora vai ser difícil pensar no jornalismo sem ele?

Quem sabe Gerson abre um dos romances que o homem lhe mandou e folheia algumas páginas.

Este seria o verdadeiro tributo a quem ele chama de “mestre” — e, indiretamente, um pedido de desculpas por perpetrar um lixo de crônica em nome de um morto que não tem como se defender.