Glenn Greenwald e Folha usam arquivo de seis gigabytes para fazer ameaças. Por Moisés Mendes

Atualizado em 20 de agosto de 2024 às 23:21
Glenn Greenwald. Foto: Suamy Beydoun/AGIF via AP

A primeira informação publicada por Glenn Greenwald nas redes sociais, no dia em que a Folha produziu a manchete dos ritos contra Alexandre de Moraes, veio em tom de ameaça: “Tivemos acesso a mais de 6GB de mensagens trocadas por assessores diretos de Alexandre de Moraes no STF e no TSE”.

Foi no dia 13 de agosto. Jornais, sites e redes repicaram: a Folha tem arquivos com seis gigabytes contra o ministro. No dia 17, a ombudsman da Folha, Alexandra Moraes, fez uma pergunta que adolescentes não fariam no texto de domingo em que finge analisar as reportagens da Gangue do Santo Rito.

A jornalista comenta sem muita convicção os textos da dupla Glenn Greenwald e Fabio Serapião e indaga: “Esgotaram-se os 6 gigabytes?” E ela mesma responde: “Ainda não sabemos”.

O tamanho dos arquivos com as conversas entre ‘assessores diretos’ de Moraes no STF e no TSE, entregues por alguém aos jornalistas, é o detalhe a ser enfatizado. A Folha avisa que está manuseando uma granada de seis gigas, para ameaçar e tentar desqualificar Moraes e implodir o inquérito das fake news.

Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foto: Adriano Machado/Reuters

A pergunta da ombudsman, apresentando a falsa dúvida sobre o esgotamento do conteúdo dos arquivos, parece ingênua e pueril. Mas é apenas a repetição da advertência de Greenwald no X.

Qualquer jornalista sabe que um gigabyte pode arquivar um Boeing de mensagens. E sabe que em três dias, até o comentário da ombudsman e depois da publicação de meia dúzia de textos, a Folha não poderia ter esgotado todo o conteúdo vazado.

Alexandra Moraes fez uma pergunta retórica, que já responde o que indaga. Claro que a Folha tem muito mais material sobre as trocas de informações entre os servidores dos tribunais.

Mas o que fazer com isso? A ombudsman sugere que esse não é um assunto pra ela, no texto em que foge da análise das reportagens da Gangue do Santo Rito e que foi abordado por Mario Vitor dos Santos, no Brasil 247, com a autoridade de quem já ocupou o mesmo cargo de ombudsman da Folha.

Alexandra Moraes publica uma salada de opiniões de leitores, para terceirizar a crítica, diz que a Folha “cutuca o poder” e repete o clichê de que tudo ali é polêmica. E depois salta fora, como mostra Mario Vitor, para não se incomodar.

Por que o melhor é não dizer nada, mesmo que a jornalista seja paga para que diga alguma coisa com fundamento? Porque é preciso insinuar que a granada pode ser maior do que parece.

A ordem não escrita é: não mexam com a pauta dos ritos. A ombudsman amarelou porque a Folha ameaça com arquivos de seis gigabytes e quer usá-los para interromper as investigações sobre o golpismo.

A publicação intermitente, com dias de vazio, sem novidade no jornal, é do jogo desse tipo de pescaria. Até agora, acharam lambaris e bagres, mas estão atrás do peixão.

Até estagiários desse jornalismo pretensamente investigativo sabem que arquivos de vazamentos são despejados em grandes compartimentos, para que ali aconteça a pescaria.

Buscas básicas por nomes, cargos, datas e episódios, com palavras-chaves, como estudantes fazem no Google, levarão aos personagens sob investigação. Até agora, apareceram Eduardo Bolsonaro, Allan dos Santos e outras sardinhas.

Daqui a pouco, podem aparecer trocas de mensagens dos ‘assessores diretos’ sobre Bolsonaro, Braga Netto, Anderson Torres, o véio da Havan e Augusto Heleno. É o que a força-tarefa da Folha faz nesse momento. Tenta encontrar algo que salve a manchete furada de 13 de agosto.

Completa-se uma semana da formação da Gangue do Santo Rito para fustigar Moraes e o Supremo. A ombudsman e o estagiário sabem que nada de impacto foi publicado até agora, mas que os conteúdos dos arquivos não se esgotaram.

E até o estagiário também já sabe que uma granada pode explodir no colo de quem a carrega. E aí saltam restos de escrúpulos, cumplicidades e tripas pra todo lado.

Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”