Publicado originalmente no Tijolaço:
POR FERNANDO BRITO
Incrível a reportagem de O Globo sobre o imenso prejuízo – R$ 4,8 bilhões, dizem – que o país terá em 2020 por ter – atenção, atenção – dois (!!!!) dias úteis a menos que em 2019, por conta dos feriados.
O próximo ano terá 251 dias úteis, dois a menos que 2019, e o número de feriados em dias da semana será maior: serão 11 contra oito. Mais que isso, serão seis dias de folga que poderão ser emendados com sábado e domingo, contra dois em 2019. Esse efeito calendário terá influência na atividade econômica. O brasileiro vai folgar mais e trabalhar menos no próximo ano. A retomada do crescimento mais forte da economia em 2020 é esperada pelo governo, analistas e bancos.
Onde é que o feriado na sexta ou segunda se diferencia do feriado no meio da semana? Onde é que o comércio deixa de faturar por conta de feriados, exceto nas lojas dos centros das cidades, porque nos bairros e nos shoppings todas abrem? Onde é que bares, restaurantes, lanchonetes e padarias deixam de ganhar com aqueles dias feirados – e olhe que são só dois a mais – aumentando assim a demanda das indústrias de bebidas e de alimentos? E o comércio dos locais de turismo, ganha ou perde com feriados emendados?
Até de gente capacitada ouve-se bobagem, como a de um funcionário do IBGE, louco para fazer coro com o senso comum:
O maior número de feriados não atinge setores de produção contínua, como o siderúrgico e o de óleo e gás, mas afeta o de automóveis e o de eletrodomésticos.
Ok, você deixa de trocar de automóvel porque quarta-feira foi feriado? Deixa de comprar geladeira ou televisão porque quinta-feira é dia santo? Vai deixar de comprar arroz ou feijão, ou uma camiseta que está precisando porque terça-feira a loja está fechada?
Ora, é evidente que esta demanda de consumo apenas transfere-se de dia, isso no caso de lojas que não abrem – e nada as impede de fazê-lo, gratificando um mínimo a parte de seus funcionários, até porque os administrativos podem folgar.
Sem contar o fato de que as compras, nos setores mais hard, como eletrodomésticos, são cada vez mais realizadas pela internet.
Mediocridade pura de quem não sabe investir em qualidade no atendimento, no pós-venda, no desconto (à vista ou em 6 vezes no cartão ainda custa o mesmo), na capacitação dos vendedores para sugerir alternativas ao produto do qual se ia desistir…
O que derruba o comércio é o desemprego, a estagnação da renda, a incerteza econômica da população, não o feriado.
Na toada desta estupidez, capaz de estarem querendo que Bolsonaro expanda para os feriados aquela ideiazinha medíocre sobre emprego e direitos: “é melhor ter trabalho todo dia do que ter feriado e não ter trabalho.