O “big dos bigs” é também o Big dos cancelados. Karol Conká, Nego Di e Lumena – os primeiros eliminados do “grupão” e eleitos como vilões do reality – têm experimentado igualmente as consequências de serem odiados por um país inteiro: perda de contratos e seguidores (grana), hostilidade nas ruas, ameaças e muito hate nas redes sociais.
De longe a mais odiada da edição, Karol Conká é também a única protegida pela Rede Globo.
O malabarismo da emissora para salvar o que restou da carreira da rapper – se é que restou algo – é notório: só na primeira semana como “cancelada”, ela foi convidada a se desculpar com o Brasil no Domingão do Faustão e no Fantástico, onde anunciou que lançará um livro com o que aprendeu em sua “jornada” no BBB (alô Lumena, só usei essas aspas por você) – e aprendeu rápido, hein?
Como se não bastasse, o Globoplay anunciou um documentário sobre a passagem da cantora pelo reality, ultrapassando todos os limites da famigerada forçação de barra.
Enquanto isso, o humorista (?) Nego Di, parceiro de maldades e pau mandado de Karol, segue ao léo. Ele não foi convidado a limpar a própria barra em nenhum programa global além do clássico (e previsto em contrato) café da manhã com Ana Maria Braga, e até usou as redes sociais pra pedir, numa brincadeira (pero no mucho), um emprego pro Boninho: “Boninho, estou desempregado. Me liga antes que o Silvio Santos o faça”, escreveu o ex-BBB, mas a única coisa que conseguiu foi ser bloqueado pelo diretor do reality.
Sem dinheiro, sem emprego, sem fanbase e abandonado pela emissora, o ex-confinado tem quebrado a cláusula contratual de exclusividade com a Globo e usado o espaço cedido por outras emissoras pra criticá-la.
“A situação é seguinte: os caras não me deram espaço. Eu tenho que ir aonde a galera está me acolhendo, fazer meu contraponto (…) eu tenho que ganhar espaço. Quando eu vou fazer publicidade é cinco dias para me autorizar. Eu tenho que ganhar dinheiro, eu tenho que mostrar o meu trabalho, eu tenho que me mexer. Então, se eles me processarem… A quebra de contrato é 1,5 milhão, só que eu não tenho nada então está tudo certo”, disse em entrevista à Jovem Pan.
Antes disso, o humorista já vinha expressando sua indignação nas redes sociais, afirmando inclusive que Conká, quando confinada, teria recebido informações privilegiadas da produção: “era chamada no confessionário quatro vezes por dia e voltava de lá outra pessoa, sensata e iluminada”, afirmou.
O tratamento dado a Karol Conká se justifica pela responsabilidade da Rede Globo com as carreiras daqueles que as perderam ao toparem um convite da emissora. Se a Globo abandonasse a Kancelada Conká, que artista toparia participar do BBB nas próximas edições, sabendo que o risco de perder a própria carreira é real, e que, nesse caso, não se pode contar com Boninho pra nada?
Sendo assim, nada mais justo que estender a mão. Belo e moral.
O problema é que a proteção dispensada à rapper não se estende aos cancelados menos famosos. Para a Rede Globo, não abandonar Karol Conká neste momento é uma oportunidade de se mostrar responsável com seu casting, mas, na verdade, o favorecimento seletivo só confirma o que a gente já sabe: a Globo não liga pros cancelados, e a audiência ainda é a única coisa que lhe importa. Pagando bem, que mal tem?
Nego Di merece o ostracismo não apenas pela péssima performance no reality, mas principalmente por ser um humorista medíore. O que está em questão não é, no entanto, o mérito dos cancelados, é a canalhice da Rede Globo ao “acolher” Karol Conká em nome da própria imagem de emissora responsável, e abandonar à própria sorte os outros cancelados, que, assim como a rapper, aceitaram o convite com o objetivo de alavancarem a própria carreira e acabaram por perdê-la.
Será que quando Thiago Leifert fala aos participantes sobre “fair play” – a conduta ética dentro de um jogo -, ele lembra que a emissora que o emprega tem feito das tripas coração pra salvar a pele de Karol e os outros cancelados que lutem?
Se a Globo se sente responsável pela carreira de Karol Conká, deveria também se responsabilizar pelo filho de Nego Di, que já não pode ir à escola por ter sido ameaçado.
Quanto a emissora recebeu em audiência pelas cenas lastimáveis, mas cheias de ibope, protagonizadas por Karol, Nego, Projota e Lumena? E quanto de apoio tem dispensado às famílias dessas pessoas?
Não, eu não espero ética da Rede Globo, não espero empatia aos cancelados em um programa de entretenimento sádico como o BBB, mas alguém precisava dizer: Dona Globo, faltou fair play.