Antes de viajar para Brasília, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman deu entrevista por telefone ao DCM, para falar da decisão do diretório municipal do PSDB de expulsá-lo do partido. “Foi uma decisão inócua”, disse. “Não seguiu o rito.”
Goldman conta que tomou conhecimento da decisão pela imprensa.
O argumento para tirá-lo do partido que dirige nacionalmente, como secretário de relações internacionais, foi comunicada por João Jorge, presidente do Diretório Municipal do PSDB, ligado a João Doria. Goldman não apoiou Doria no primeiro turno das eleições.
“Não apoiei nem nunca apoiarei por entender que Doria não tem a dimensão nem os elementos mínimos para exercer liderança num partido como o PSDB. Essa figura do João Doria não se enquadra na história do partido”, disse.
Alberto Goldman acompanhou Paulo Skaf, do MDB, no último debate de TV realizado antes do primeiro turno. Estava na TV Globo, com um broche do candidato na lapela.
A divergência com Doria é antiga. Quando o Doria completo nove meses à frente da prefeitura de São Paulo, em outubro do ano passado, declarou:
“O prefeito ainda não nasceu”.
E complementou que a cidade estava abandonada. “Passa mais tempo fora, cuidando de sua candidatura a presidente do que cuidando da cidade que deveria administrar”, afirmou, à época.
Em resposta, Doria o ofendeu.
“Você é um improdutivo, um fracassado (…), coleciona fracassos em sua vida e agora vive de pijamas na sua casa”, disse, em alusão à idade de Goldman (80 anos).
Goldman decidiu que, no segundo turno das eleições, não votará em Doria e explicou uma das razões. “Ele se aproxima muito da direita extremada, que eu desprezo e rejeito, das posições fascistas que nunca terão meu apoio”, declarou.
Era uma referência à aliança que Doria esboça com Bolsonaro.
Em Brasília, Goldman participará da primeira reunião da direção nacional do PSDB para avaliar a derrota nas eleições.
“Não há dúvida de que o PSDB sofreu uma derrota extremamente grave e é preciso entender por que, já que não foi governo. É preciso fazer uma avaliação e buscar novos caminhos”, disse.
O PSDB não era governo em termos. Com a queda Dilma, para a qual o partido contribuiu decisivamente, dividiu o governo com Michel Temer.
Perguntei a Goldman se, sendo historicamente próximo da esquerda, apoiaria Fernando Haddad no plano nacional.
“Eu não sou próximo da esquerda. Eu sou de esquerda e é por isso que não vou apoiar Haddad. Não acho que o PT seja de esquerda. O partido não tem a democracia como valor universal, mas como instrumental para chegar ao poder”, afirmou.
Durante a ditadura, Goldman foi um dos expoentes do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB), quando a sigla atuava na clandestinidade e ele tinha mandato de deputado estadual e depois deputado federal através do MDB.
O PCB se transformou no PPS e Goldman tomou outro caminho: foi para o PSDB.
Se não vai apoiar Haddad, apoiará Bolsonaro? “Jamais. Nem um, nem outro”.
Pelo que diz, no plano nacional, o partido ficará no lugar onde, historicamente, se acomodou: o muro.
No que diz respeito a Doria, no entanto, justiça seja feita: Golman não hesitou ao escolher um lado. “O fascismo não”, disse.