“Muitos diplomatas no evento saíram abalados com a apresentação, inclusive com a proposta de Bolsonaro de que o caminho para garantir eleições seguras seja por meio de mais envolvimento do exército brasileiro, segundo dois diplomatas no evento que falaram sob anonimato”, relata o The New York Times nesta terça-feira.
A repercussão da coletiva de imprensa de Bolsonaro com embaixadores sobre supostas fraudes no processo eleitoral brasileiro mostra que o presidente não convenceu ninguém. Pior, assustou ainda mais.
“Esses diplomatas temem que Bolsonaro esteja preparando o terreno para atentar contra o resultado das eleições caso ele perca”, diz o jornal nova-iorquino.
“Bolsonaro também está recebendo ajuda de Trump e seus aliados sob a forma de apoios, conferências políticas conservadoras, novas redes sociais e amplo tempo de televisão na Fox News com o apresentador Tucker Carlson”.
“Ele citou amplamente supostas evidências, como vídeos que mostram máquinas que funcionam mal. Muitos desses vídeos foram desmentidos por agências de verificações e autoridades eleitorais”.
“No final do discurso de Bolsonaro, segunda-feira, houve um breve silêncio enquanto ele ficou de pé diante do público. Alguns dos membros do seu gabinete rapidamente romperam o silêncio com aplausos. Muitos dos diplomatas aplaudiram educadamente, também”, ironiza.
“Autoridades dos Estados Unidos e da Europa têm dito que confiam no sistema eleitoral brasileiro. O presidente Biden ressaltou a importância de respeitar as instituições democráticas em seu encontro com Bolsonaro em junho”, relata.
Na Europa, a mensagem de Bolsonaro também repercutiu, negativamente. “Brasil: Jair Bolsonaro questiona sistema eleitoral”, diz o Le Temps. “O presidente brasileiro de extrema direita, dado como derrotado pelas pesquisas, atacou novamente o sistema de votos por urna eletrônica. Lula, favorito, lamenta ‘mentiras contra a nossa democracia’”, apontou o jornal suíço.
“Há meses, Jair Bolsonaro espalha a ideia de que o pleito poderia ser fraudulento em razão do voto por urna eletrônica, sem fornecer uma prova sequer num país em que essa fórmula demonstrou sua fiabilidade desde 1996”. Tom semelhante no canal de televisão francês BFMTV.
Em Portugal, o colunista do Diário de Notícias João Melo fala de um golpe em curso: “Brasil: o golpe está em andamento”.
“O maior país de língua portuguesa (e também o maior país com população afrodescendente do mundo ou, como preferem dizer os movimentos antirracistas locais, o segundo maior país negro do planeta, depois da Nigéria) está a viver um momento delicado: há no ar um indisfarçável cheiro de golpe, estimulado e urdido pelo próprio incumbente atual da presidência da República, figura cujas ligações à extrema-direita internacional são cada vez mais óbvias e comprovadas”, afirma .
“A rigor, a tentativa de golpe está em curso, desde o discurso do atual presidente contra as urnas eletrónicas (sistema que o elegeu em 2018), as pressões do ministro da Defesa contra os órgãos da justiça eleitoral e, em particular, os apelos de Bolsonaro aos seus seguidores para não hesitarem em recorrer à violência armada contra os seus adversários políticos, ‘missão’ que alguns deles já estão a pôr em prática em todo o país. O receio é que o próprio presidente instaure o caos no país, no dia 7 de setembro (aniversário dos 200 anos do Brasil) ou no dia das eleições, para justificar uma intervenção militar, a fim de restabelecer a ordem”.
“O Brasil teme viver a eleição mais sangrenta da história”, diz o mesmo jornal. Crença que foi reforçada pelo assassinato de Marcelo Arruda. “O caso é apenas a ponta mais dramática de um iceberg de ataques registrados antes ainda de começar a campanha. Especialistas temem, em 2022, a eleição mais sangrenta da história”.
“Brasil: Campanha eleitoral deverá ser violenta”, diz o canal de TV português RTP. “O temor cresce de que o mundo deva testemunhar algo similar a milhares de milhas ao Sul, no Brasil”, considera a The Economist, numa alusão à invasão do Capitólio.
“A violência agita o duelo entre Bolsonaro e Lula”, observa o espanhol La Razón. “O assassinato de um militante do PT aos gritos de ‘somos Bolsonaro’ multiplica o medo de mais crimes de ódio a menos de três meses das eleições.”
“Morte de tesoureiro do partido de Lula aumenta medo de eleição violenta”, noticia o The Guardian.
A tentativa de Bolsonaro de distrair o mundo desacreditando as instituições brasileiras não é suficiente para esconder a destruição ambiental do país, que não sai das manchetes internacionais.
“Desmatamento no Brasil: Amazônia perdeu 18 árvores por segundo em 2021”, aponta reportagem da TF1, canal de TV de maior audiência na França.
“Ecocídio no Cerrado”, mancheta a rádio espanhola RTVE. “O Tribunal Permanente do Povo acusa o Estado brasileiro e outros atores internacionais de cometer ecocídio na região do Cerrado”.
“A sentença é muito clara contra o Estado brasileiro”.