O governo de Jair Bolsonaro deixou de registrar a entrada de visitantes do Palácio da Alvorada nos últimos quatro anos. O ex-presidente manteve um controle pouco rígido sobre os frequentadores da residência oficial da Presidência e deixou a informação sobre sigilo durante a gestão. A informação é do jornal O Globo.
Os dados não foram divulgados pelo ex-chefe do Executivo sob a alegação de que poderiam colocar em risco a segurança de Bolsonaro e sus familiares. Nesses casos, a legislação determina que as informações sejam abertas após o fim do mandato, que ocorreu neste mês.
As pessoas que mais entraram na portaria principal da Alvorada foram os filhos do ex-presidente: Flávio Bolsonaro, com 13 visitas, e Eduardo, com 12. Os dois visitaram a residência oficial muito mais do que foi registrado, como mostram diversas fotos e publicações nas redes sociais.
As idas de Flávio e Eduardo ao local só foram registradas até 2020, o que indica que elas não foram contabilizadas depois disso.
Informações públicas mostram a falta de registros: no dia 1º de novembro, por exemplo, Bolsonaro se reuniu com quase todos os ministros do governo para fazer seu primeiro pronunciamento após a derrota na eleição, mas a relação oficial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) só contém a entrada de um assessor da Secom (Secretaria de Comunicação Social).
Ao todo, a planilha com as entradas de visitantes do Alvorada tem 4.987 registros entre janeiro de 2020 e dezembro de 2022, sendo que 2.056 delas foram no portão principal e 2.931 na entrada de serviço.
Diversas reuniões sensíveis também não foram registradas, como a de 20 de março de 2021, quando o deputado federal Luis Miranda (Republicanos-DF) se reuniu com Bolsonaro para falar sobre suspeitas de irregularidade na compra da vacina Covaxin. Apesar da divulgação de fotos do encontro, não há anotação do GSI sobre o episódio.
A falta de registros indica que a maior parte das entradas no Alvorada pode não ter sido anotada. Outro sinal de que o governo deixou de marcar as visitas é o fato de que os números foram caindo ao longo dos anos: 1.810 em 2020, 162 em 2021 e apenas 84 no ano passado.