Três dias após tomar posse, Jair Bolsonaro descobre, na prática, que governar um país das proporções do Brasil requer muito mais do que frases de efeito e twitters mal escritos.
O verdadeiro tiro no galinheiro provocado pelas declarações do presidente nessa sexta (4) mostrou, mais do que o seu completo despreparo para todo e qualquer assunto, as fissuras já aparentes no relacionamento interno de um governo fadado ao fracasso.
O desespero em que se viram os membros do primeiro e segundo escalões para amenizar os efeitos da fala do chefe, criaram uma cena pastelão de envergonhar Zélia Cardoso, aquela ministra da economia de Fernando Collor.
Trapalhadas coincidentes, o final já é conhecido.
Para que o circo inteiro fosse armado, não foram necessárias mais do que três frases malfadadas.
Aumento na carga tributária para os mais pobres ao passo da redução de impostos para os mais ricos, titubeio na reforma da previdência e interferência no negócio bilionário da Boeing com a Embraer fizeram sociedade, mercado e investidores terem náuseas coletivas de vômito.
Insatisfeitos gregos e troianos, o jeito foi desmentir tudo.
A manchete óbvia de que a equipe econômica havia desautorizado o presidente da República atestou a condição de reles passageiro para aquele que deveria estar a conduzir a nação.
Uma vez recolhido o presidente à própria insignificância, restou aos vassalos do núcleo duro a disputa pelo cargo de eminência parda num governo que muito bem poderia ser representado pela lenda mítica da mula-sem-cabeça.
Aqui as hienas mostraram os dentes.
Onyx Lorenzoni, Gustavo Bebianno e Paulo Guedes se engalfinham entre eles para provar quem possui mais poder.
Na disputa pela maior influência, o casamento poligâmico de Jair Bolsonaro já enfrenta sua primeira grande crise.
Desentendimentos infantis, ciúmes fundamentados, ganância e traições fazem parte do pacote. Bem ao estilo da tradicional família brasileira.
E nessa palaciana lavação de roupa suja, entre bolas nas costas e facadas no estômago, o Brasil – e o mundo – assistem num misto de incredulidade e estupor o esfacelamento de um governo que, no fundo, nada ofereceu, mas que a maioria votante resolveu burramente o nada aceitar.