Publicado originalmente no blog Tijolaço
POR FERNANDO BRITO
53 dias atrás, perguntado sobre as 5 mil mortes até então causadas pelo novo coronavírus, Jair Bolsonaro soltou o seu tristemente famoso “E daí, querem que eu faça quê?“.
Agora as mortes são dez vezes mais e o “querem que eu faça o quê?” está perfeitamente respondido com uma multidão de corpos inanimados recobertos de terra, sem direito sequer a um afago e um adeus dos seus.
Daqui a outros 53 dias, ao fim da primeira quinzena de agosto, é provável, segundo as projeções dos especialistas e seus modelos de projeção, que estejamos lamentando mais 100 mil vidas perdidas e não há esperanças de que Jair Bolsonaro esteja dizendo algo diferente do “querem que eu faça o quê?”
O presidente que certo dia disse que seria preciso morrerem “uns 30 mil” para o Brasil mudar, está na iminência de dobrar, triplicar, quadruplicar a “meta”.
É verdade que Jair Bolsonaro não ficou inerte diante da escalada macabra.
Não, ao contrário, ajudou a acelerá-la, chamando o povo às ruas, contrariando as medidas sanitárias, demitindo ministros da Saúde e entregando o posto a um general – o apetite dos generais palacianos por poder nem mesmo recusou-se a tingir de sangue as fardas militares – e se dedicando a salvar sua própria pele e a dos filhos diante de um mar de denúncias.
A última manifestação oficial do governo, com as assinaturas também do vice e do ministro da Defesa foi para dizer que as Forças Armadas não cumpririam “ordens absurdas”.
Parece que não é assim, pois seguem fabricando pílulas inúteis de cloroquina e seguiram as ordens de tentar abafar os números da pandemia, sepultando estatísticas junto com os cadáveres.
Contam que, passados 100 dias desde o início da epidemia, a morte tenha se tornado algo tão banal e presente que não haja mais reações ao genocídio.
Ocorre, porém, que neste período o próprio Governo tornou-se um paciente terminal, respirando por aparelhos de corrupção com a entrega de cargos, enquanto se retorce em meio a processos e escândalos.
O governo Bolsonaro vai morrer, não sem antes matar mais milhares, dezenas de milhares, de brasileiros e de brasileiras.
E será sepultado, como suas vítimas, sem possibilidade de lágrimas e de adeus.