Publicado originalmente na “Rede Brasil Atual”
A porcentagem de crianças vacinadas contra a poliomielite no Brasil caiu de 98,3% em 2015 para 76,7% em 2022. Já o índice de vacinação infantil com a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) caiu de 96,1% para 80,4% neste período. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o país tem a segunda pior taxa de vacinação da América Latina, atrás da Venezuela. Outrora referência, o Programa Nacional de Imunização (PNI) passou por um descrédito inédito na história durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
O ex-presidente afirmava publicamente sua aversão à ciência. Atacou a segurança e a efetividade das vacinas, fez piada e chegou a ligar imunizantes a disseminação de doenças. As mentiras de Bolsonaro, somadas à crise sanitária da covid-19, resultaram em um cenário trágico. Especialistas temem que doenças erradicadas voltem nos próximos anos.
O atual governo tenta reverter o estrago. O Ministério da Saúde lançou, ainda no início do mandato, um grande programa de imunização, o Movimento Nacional pela Vacinação. “Os índices vacinais sofreram quedas drásticas nos últimos anos, agravadas com a falta de incentivo e campanhas do governo passado. O Brasil, considerado um país pioneiro e referência internacional em campanhas de vacinação, vem apresentando retrocessos. Agora, o Ministério da Saúde está reconstruindo a relação plena com as sociedades científicas e o diálogo”, informa o Planalto.
Contra o negacionismo
Enquanto isso, a deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP) protocolou um Projeto de Lei (PL 125/23) para tentar proteger o país de políticos negacionistas. O texto, que tramita nos estágios iniciais na Câmara dos Deputados, prevê a inclusão do discurso mentiroso contra vacinas no rol de crimes de responsabilidade. Caso aprovada, a legislação permitiria a abertura de processo de impeachment contra autoridades que disseminem mentiras contra a saúde pública.
“A postura do então presidente Jair Bolsonaro, que se opôs radicalmente às políticas de isolamento social e ao uso de máscaras, além de promover um medicamento de eficácia não comprovada para tratamento da Covid-19, foram relevantes para a expansão do vírus no país e, consequentemente, para o crescimento do número de vítimas fatais da doença”, afirma a parlamentar.
Vacinação infantil
A iniciativa da deputada, bem como a divulgação de dados do Unicef, possuem relação com a Semana Mundial da Imunização, que vai até domingo (30). Embora a situação seja particularmente ruim no Brasil, em razão do fator Bolsonaro, outros países também enfrentam dificuldades. De acordo com a entidade, 67 milhões de crianças em todo o mundo perderam parcial ou totalmente as vacinações de rotina entre 2019 e 2021.
O relatório faz algumas recomendações para governos de todo o mundo, com intenção de reverter este quadro. São elas:
- Vacine todas as crianças por meio de programas eficazes de imunização e campanhas de atualização.
- Reforçar a confiança na vacinação
- Invista em imunização e saúde
- Construir sistemas de saúde resilientes
“Alcançar a mudança necessária para vacinar todas as crianças não será fácil. Mas as conquistas dos últimos 80 anos devem nos dar esperança”, finaliza a Diretora Executiva do Unicef, Catherine Russell.