Grafiteiros fazem mutirão para cobrir ofensas e símbolos nazistas em cidade do RS

Atualizado em 6 de julho de 2020 às 8:55
Reprodução (Jornal VS)

PUBLICADO NO JORNAL VS

POR JEAN PEIXOTO

Quando foi comunicado sobre a pichação de símbolos nazistas e ofensas nas paredes da Associação de Moradores da Vila Antônio Leite, o grafiteiro e artista visual leopoldense Mateus Xamã decidiu agir. “Na mesma hora eu decidi vir aqui para cobrir. Isso é muito grave. Mesmo que tenha sido feito por adolescentes que não percebam o peso desse símbolo, decidi convocar outros grafiteiros para cobrirmos isso com arte e dar um exemplo positivo”, explica.

A frase “odeio viados e preto”, ao lado de três suásticas, foi pichada na madrugada de sexta-feira na fachada e na porta da associação, no bairro Campina, em São Leopoldo. Quem percebeu as pichações foi a presidente, Sara Gonçalves, 51 anos – a Sarita, como é conhecida na comunidade – que mora em frente à sede. Mulher transexual, Sarita se sentiu diretamente atacada pelas inscrições e registrou um boletim de ocorrência on-line. Muros e paredes de residências vizinhas à associação também foram pichados com suásticas e com as palavras “apocalipse” e “nova ordem mundial.”

Ao saber do fato, Adriano Maicá, uma das lideranças da comunidade, iniciou uma mobilização pelas redes sociais junto com Sarita. “Não podemos aceitar este tipo de preconceito. Não sabemos quem fez isso, mas foi claramente direcionado à Sarita e ao vice-presidente, que é um homem negro. Não vamos aceitar calados”, ressalta Adriano.

Ainda pela manhã, Mateus Xamã convocou outros grafiteiros para ajudá-lo na pintura das paredes e pediu ajuda da comunidade para obter as tintas. “Em pouco tempo, conseguimos doações de tintas da população e da associação para iniciarmos a pintura”, conta. Durante o sábado, os voluntários Cida Rafael, 30 anos, e Carlos Roberto, 28 anos, ajudaram Mateus a pintar as paredes do prédio.

“Eu fiz uma convocação para que, todos os grafiteiros e artistas de São Leopoldo e região que quiserem e puderem, que venham e nos ajudem a estampar essa fachada”, comenta o artista. Xamã ressalta que as cores variadas utilizadas para cobrir as pichações representam a diversidade e adianta que, na segunda-feira, pretende estampar rostos que representem o tema.