Greta denuncia “inércia política” e cobra responsabilidade ambiental na UE em reunião com Merkel

Atualizado em 20 de agosto de 2020 às 15:56
Greta Thunberg e a Europa. Foto: Wikimedia Commons

Publicado originalmente no site RFI

A ativista sueca Greta Thunberg se reuniu nesta quinta-feira (20) com a chanceler alemã, Angela Merkel, em Berlim. Greta pediu o encontro para denunciar “a inércia política” e o negacionismo dos Estados diante das mudanças climáticas, no momento em que a Alemanha está na presidência rotativa da União Europeia e o movimento estudantil de mobilização pelo clima completa dois anos.

A ativista sueca de 17 anos foi recebida durante uma hora e meia pela chanceler alemã, acompanhada de três outras integrantes do movimento “Sextas-feiras pelo Futuro”, a alemã Luisa Neubauer e as belgas Anuna de Wever e Adelaide Charlier.

A Alemanha, que atualmente preside a União Europeia, tem uma “enorme responsabilidade e queríamos ter a certeza de que a chanceler tem ambições elevadas”, disse De Wever. “Merkel parece estar ciente do que está em jogo”, acrescentou Neubauer.

A chanceler, que deixará o poder no final de 2021, e as quatro ativistas “concordaram que o aquecimento global é um desafio planetário e que os países industrializados têm uma responsabilidade especial na luta contra este fenômeno”, relatou o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, após a reunião. Ele afirmou que uma implementação consistente do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global a 2°C em comparação com a era pré-industrial, é essencial.

As conversas, segundo o porta-voz, abordaram o objetivo de neutralidade climática da União Europeia até 2050, com uma possível meta intermediária até 2030, e o mercado de carbono.

No entanto, “a distância entre o que deveríamos fazer e o que realmente está sendo feito aumenta a cada minuto”, declararam as ativistas antes do encontro. Apesar da mobilização “ainda perdemos dois anos cruciais por falta de ação política”, lamentaram as jovens ambientalistas, pedindo aos países que suspendam urgentemente todos os investimentos em combustíveis fósseis.

Dois anos de inércia

Em 20 de agosto de 2018, Greta Thunberg iniciou uma greve em que parou de ir às aulas para protestar diante do Parlamento sueco contra a falta de ações efetivas de combate ao aquecimento global. Sua franqueza e determinação conquistaram a simpatia de milhares de estudantes em todo o mundo, dando origem ao movimento “Fridays for Future” (“Sextas-feiras pelo Futuro”).

Antes da reunião com Merkel, em uma carta aberta assinada por vários ativistas do clima, publicada pelo jornal britânico The Guardian e pelo site alemão Der Spiegel, Greta recordou as dificuldades persistentes.

“A União Europeia deve realmente agir, a Alemanha deve tomar a iniciativa: os investimentos em combustíveis fósseis devem parar, o ecocídio deve se tornar um crime passível de punição”, pediu Greta. “Quando se trata de agir, sempre estamos em um estado de negação. A crise climática e ecológica nunca foi tratada como uma crise”, denunciaram os ambientalistas na carta.

A Alemanha continua dependente em grande parte do carvão para a produção de energia, devido ao abandono progressivo da energia nuclear após a catástrofe de Fukushima, em 2011. No entanto, graças à baixa atividade decorrente da epidemia do novo coronavírus, o país poderia alcançar sua meta de reduzir suas emissões em 40% em relação ao nível da década de 1990.

Os alemães pretendem abandonar a produção de eletricidade por meio do carvão a partir de 2038, uma data que os ativistas climáticos consideram tarde demais.

Pandemia revela oportunidade

“A nova pandemia de coronavírus oferece uma grande oportunidade para mudar as coisas”, acredita a belga Charlier. A epidemia e a súbita desaceleração econômica global estão tendo um efeito positivo temporário sobre os níveis de emissão e poluição. Mas a Covid-19 dificulta a mobilização para o clima, em um momento em que os temores sobre o emprego são a prioridade.

O movimento “Sextas-feiras pelo Futuro” prevê um dia global de mobilização em 25 de setembro, porém adaptado ao contexto da saúde, marcado pelo aumento de casos em muitos países europeus. “Levamos a epidemia a sério, procuramos formas de nos adaptar (à mobilização), por exemplo com menos gente nas ruas”, disse Neubauer, uma personalidade do movimento na Alemanha.

Com informações da AFP