Greve Global pelo Clima mobiliza milhões de pessoas em 150 países. Por Lu Sudré

Atualizado em 20 de setembro de 2019 às 19:49
Manifestantes reivindicam medidas concretas para combater o aquecimento global e para frear as emissões de CO2 / Foto: Christof Stache/AFP

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

POR LU SUDRÉ

Multidões se reuniram nos quatro cantos do mundo nesta sexta-feira (20) para exigir ações contra as mudanças climáticas e o colapso ambiental em curso. As manifestações reivindicam medidas concretas para combater o aquecimento global e frear as emissões de gases causadores do efeito estufa.

Apesar de não haver dados oficiais, a imprensa internacional já noticia que as ações mobilizaram milhões de pessoas ao redor do globo.

A Greve pelo Clima é inspirada no movimento Fridays For Future (Sextas-feiras Pelo Futuro, em português), criado por Greta Thunberg, adolescente sueca de 16 anos. Desde o ano passado, ela falta às aulas todas as sextas-feiras para protestar diante do parlamento da Suécia pelo clima. A ação ganhou comoção popular e passou a ser reproduzida por estudantes de outros países.

Com ampla participação de crianças e jovens em defesa de seu futuro, os atos globais reforçam a urgência de políticas governamentais voltadas para que a temperatura média global, que cresce a cada ano, mantenha a curva de crescimento abaixo de 1,5 ºC até o fim do século.

Especialistas consideram ainda, que o ano que vem é o período limite para a adoção de medidas efetivas que possam reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2) em 45% até 2030.

Ao longo desta sexta-feira, foram registrados atos em cidades da África do Sul, Nigéria, Uganda, Alemanha, Inglaterra, Dinamarca, França, Holanda, Paquistão, Polônia, Croácia, Austrália, Índia, Bolívia, Estados Unidos, Japão e Tailândia. Um total de cinco mil protestos são esperados até o fim do dia.

A expectativa é que as atenções globais se voltem para um gigante protesto marcado em Nova York, onde ocorrerá a Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) na próxima semana.

Já no Brasil, mobilizações acontecem em municípios de Minas Gerais, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro, Brasília, Bahia, entre outros. Em São Paulo, no fim do dia, ocorre um protesto na Avenida Paulista, na altura do Museu de Artes de São Paulo (Masp).

Gritos pela Amazônia

A Greve pelo Clima, cujas mobilizações também estão marcadas para o período entre 20 e 27 de setembro, ocorre em um momento em que a atenção mundial está voltada para o Brasil, devido às queimadas no território amazônico e as respostas do governo brasileiro frente a tal cenário. Somente no mês de agosto, a região foi devastada por 30.901 focos ativos de fogo, um aumento de 196% em relação a julho.

No mesmo período, foram mais de 51 mil focos de incêndio em todo o país, um aumento de 128% em relação a agosto de 2018. Conforme análise disponibilizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), perseguido por Bolsonaro, estes são os maiores números registrados desde 2010.

A origem das chamas se deram devido à ação predatória de ruralistas em regiões fronteiriças à Amazônia. Estimulados por Bolsonaro, os produtores organizaram o Dia do Fogo, em 10 de agosto, em busca de expansão das áreas de pastagem ou para plantações de soja.

Descompromisso ambiental 

Ao lado de críticas e políticas destrutivas da agenda ambiental, declarações polêmicas do presidente sobre as queimadas deixam o Brasil em posição de desprestígio internacional. Até o momento, a Cúpula do Clima da ONU não incluiu o país entre aqueles que terão direito a discursar durante o encontro.

Isso porque o objetivo dos discursos é dar destaque aos países que constroem ações inspiradoras de combate à crise ambiental. O Brasil, por sua vez, segue na contramão deste objetivo.

De acordo com dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), por exemplo, em 2017 a nação emitiu cerca de 2 bilhões de toneladas de CO2, o que o tornou o sétimo maior emissor de gases do efeito estufa.

Quase metade (46%) dessa quantidade foi emitida pelo setores do desmatamento, seguidos por 24% de emissões das atividades agropecuárias e 21% do setor de energia e transporte.

Além de Bolsonaro, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, também tem sido amplamente criticado por “declarações negacionistas” relacionadas às mudanças climáticas.