Há um ponto em comum entre os movimentos sociais de direita como o MBL e o tal Direita São Paulo que convocou ato contra a lei de imigração nesta semana: todos defendem a revogação do Estatuto do Desarmamento e desejam uma corrida armamentista da população.
Para eles esse é o mundo ideal. O lema do macabro Movimento Viva Brasil é ‘não estamos falando de armas, estamos falando de liberdade’.
Tudo bem. Façamos então um exercício imaginativo dessa tal ‘liberdade’: E se os imigrantes palestinos agredidos pela turma do Direita São Paulo tivessem fuzis para se defender?
E se José Dirceu sacasse uma pistola, baixasse o vidro do carro e abrisse fogo contra as pessoas que invadiram a garagem de seu prédio em sua chegada após sair da prisão?
Ou ainda se o pobre Samir Ali Sati, morador de rua, apontasse uma arma para a cabeça o agente da Guarda-Civil Metropolitana ao perceber que seria covardemente agredido?
Tudo bem, certo? Tudo legítima defesa.
E que tal se, no próximo dia 10, as caravanas pró e contra Lula que estarão em frente ao prédio onde o petista prestará depoimento a Moro fossem repletas de gente armada? Coisa linda, hein?
Esses movimentos são compostos de alienados vítimas de discursos raivosos de gente que tem interesses por trás bem maiores que a tal ‘liberdade’ proclamada. O dinheiro do mercado de armas é o que realmente interessa. E por pouco a coisa não evoluiu satisfatóriamente aos belicistas recentemente.
Há cerca de um mês a bancada da bala – liderada pelo deputado Alberto Fraga (DEM-DF) – fez uma coleta relâmpago de assinaturas para pedir votação em regime de urgência na Câmara do projeto 3.772, que facilita a compra e o porte de armas de fogo.
O presidente da Casa, Rodrigo Maia, é um aliado da turma e a coisa toda só não andou com a pressa desejada porque apareceu uma questão ainda mais premente aos interesses da bancada da bala, repleta de ex-policiais: as aposentadorias da categoria.
Os quase 40 deputados da bancada da bala esqueceram momentaneamente a questão do armamento da população, fizeram mira contra a reforma previdenciária e lutaram pela manutenção das regras diferenciadas para aposentadorias de policiais. O golpista acuado Michel Temer cedeu.
Dizendo-se porta-vozes de uma ‘gente de bem’ amedrontada pelo que tem assistido nos programas do Datena, esses deputados – e grupelhos como MBL e Direita São Paulo – saem repetindo frases feitas que mesclam mantras com ameaças do tipo ‘só o cidadão honesto está desarmado. Isso vai mudar em breve!’.
Referem-se ao apoio que fazem ao projeto 3.722, do deputado Rogério Peninha (PMDB-SC), no qual qualquer pessoa a partir de 21 anos de idade poderá comprar sua arma, obter o porte será simples como tirar habilitação para dirigir e até mesmo a restrição para aqueles que respondem a inquérito policial ou a processo criminal deixa de existir.
Essa lei substituiria a vigente que determinava que somente podem portar arma de fogo os policiais civis, militares, federais e rodoviários, os integrantes das Forças Armadas, agentes de inteligência, guardas prisionais, auditores fiscais e profissionais de segurança pública ou privada (desde que em serviço).
O Brasil já ocupa o primeiro lugar num ranking mundial de homicídios por armas de fogo (em números absolutos). Ainda assim tem gente que acredita que mais armas circulando sejam a solução.
Alguém me ajuda a desenhar para essa turma de modo que entendam que o aumento do volume de armas de fogo em circulação resultará na explosão dos índices de violência?