Por Fernando Brito
Não se iludam com a aparência simpática e os tapinhas nas costas dados esta noite em Geraldo Alckmin esta noite no Congresso, ao apresentar as propostas iniciais para a chamada PEC da Transição, que será mesmo uma PEC quando for subscrita por pelo menos 27 senadores e for recebida pelo presidente de uma Casa legislativa, neste caso o Senado.
E não pense, leitor ou leitora, que a reação do “mercado” é pela autorização para gastar R$ 175 bilhões no Auxílio Brasil que vai tornar a ser Bolsa Família e nos R$ 150 por criança de menos de 6 anos que a ele se acrescerá.
Embora seja muito dinheiro para nós, em nossos orçamentos domésticos, é apenas 10% da receita corrente total da União e cerca de 4% da receita total (somadas as operações de crédito) realizadas este ano, de janeiro a setembro.
Praticamente empataria com o superávit primário do Tesouro, que acumulou, em valores reais, R$ 124,4 bilhões até setembro e, no ano, com os três meses que faltam, praticamente empataria.
Nada, portanto, que vá levar o país à falência, embora não gastar com isso fosse manter as pessoas com fome.
A conversa é outra: uma queda de braço com o governo que vai se iniciar, visando colocar um freio em Lula e dobrá-lo a indicações que considere “mais palatáveis” para o mercadismo.
Quem observou a postura do presidente eleito, hoje, na Cop-27, deveria perceber que isso não vai funcionar, embora isso vá dar um discurso – que você já pode ver na grande mídia – para a sabotagem que o bolsonarismo tentará fazer na tramitação das mudanças orçamentárias que visem dar governabilidade a Lula nos primeiros meses de governo.
E veremos, num show de hipocrisia, os tubarões do Orçamento Secreto pregando austeridade.
Não é fácil, porém, remar contra um governo recém-eleito, com todos os cargos a serem preenchidos, ainda mais num tema tão sensível quando o do auxílio aos brasileiros mais pobres.
Lula, é claro, vai negociar, mas não além de uma situação que lhe permita governar. No seu terceiro governo, sabe fazê-lo, e não está disposto a ser engaiolado pelo mercado, situação em que ficou no início do seu governo, até que pudesse acumular força para as mudanças políticas.
Agora, tudo é mais urgente. Mas também é para a parte do Congresso que não volta em fevereiro e não tem porque transferir para quem entra as vantagens políticas de “ficar bem” com o novo governo.
A turma da bufunfa, curtindo os juros que estão no dobro da inflação, tem banha para queimar, mas não está acostumada a suar.
Mas vai, porque agora não vai ter mais tchutchuca.
Publicado originalmente em Tijoaço