Se fosse metido a bacana, o que ele não consegue ser, Bolsonaro poderia ter dito em latim a frase que soletrou nessa quarta-feira em evento no Rio, diante de militares.
Foi quando da entrega de medalhas de Mérito Desportivo Militar aos atletas que representaram o Brasil nas Olimpíadas.
Essa é a frase na versão em português, como se ele estivesse anunciando o que pretende fazer, dependendo do tamanho das manifestações do 7 de setembro pró-golpe:
“Quer a paz, se prepare para a guerra”.
Em latim, Bolsonaro diria assim:
“Si vis pacem, para bellum”.
Não, a frase não é de Carluxo. É um provérbio em latim atribuído ao pensador romano do quarto ou quinto século Flávio Vegécio.
Está na Wikipedia. Com o Google e a Wikipedia, qualquer um pode ser erudito, até Bolsonaro.
Mas Bolsonaro prefere a informalidade e geralmente diz frases que ele inventa, no cercadinho do Alvorada. Nessa da guerra ele se puxou.
Imagine-se o que deve estar acontecendo em Brasília, com as novas tensões no ar (Carluxo com sigilo quebrado) e o 7 de setembro se aproximando.
Os militares devem chamar Bolsonaro para os cantos e alertar que uma guerra não é bem assim, que ele deve tomar cuidado com o que diz. Que não basta ter armas e parecer valente para enfrentar inimigos.
Os militares devem lembrar a Bolsonaro que, se fosse fácil, ele não teria perdido uma arma para os bandidos num assalto no Rio, quando era jovem, forte e começava a construir seu histórico de atleta.
Bolsonaro entregou a pistola e a moto e ficou na estrada sem nada, só com o discurso de que um homem armado se defende dos piores bandidos – e até de milicianos, se os milicianos não forem seus amigos.
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Calibragem
Tentar calibrar o discurso de Bolsonaro deve ser a tarefa mais difícil para os que estão por perto e se preocupam com as bobagens que o homem diz.
Bolsonaro é ruim de improviso e está acossado pela CPI do Genocídio, pelo Ministério Público, pela Polícia Federal (que ele descobriu que não é dele) e por Alexandre de Moraes.
Por isso ele deve calibrar bem o latim. Frases em latim são a base de quase tudo o que se diz em quaisquer circunstâncias.
Tem essa frase, que teria sido dita por Cícero, em um discurso mais ou menos 46 antes de Cristo:
“Ut sementem feceris, ita metes”
É aquela famosa lição do cada um colhe o que planta, que os tios diziam em aulas de moral e cívica. Bolsonaro está tentando colher antes de plantar.
E tem mais essa, que não precisa de tradução:
“Oculum pro oculo et dentem pro dente”.
E, para encerrar, mais esse provérbio espanhol:
“La ignorancia es atrevida”.
(Texto originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES)