A guerra, o latim, os dentes e a ignorância. Por Moisés Mendes

Atualizado em 2 de setembro de 2021 às 6:18
Jair Bolsonaro.
Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Se fosse metido a bacana, o que ele não consegue ser, Bolsonaro poderia ter dito em latim a frase que soletrou nessa quarta-feira em evento no Rio, diante de militares.

Foi quando da entrega de medalhas de Mérito Desportivo Militar aos atletas que representaram o Brasil nas Olimpíadas.

Essa é a frase na versão em português, como se ele estivesse anunciando o que pretende fazer, dependendo do tamanho das manifestações do 7 de setembro pró-golpe:

“Quer a paz, se prepare para a guerra”.

Em latim, Bolsonaro diria assim:

“Si vis pacem, para bellum”.

Não, a frase não é de Carluxo. É um provérbio em latim atribuído ao pensador romano do quarto ou quinto século Flávio Vegécio.

Está na Wikipedia. Com o Google e a Wikipedia, qualquer um pode ser erudito, até Bolsonaro.

Mas Bolsonaro prefere a informalidade e geralmente diz frases que ele inventa, no cercadinho do Alvorada. Nessa da guerra ele se puxou.

Imagine-se o que deve estar acontecendo em Brasília, com as novas tensões no ar (Carluxo com sigilo quebrado) e o 7 de setembro se aproximando.

Os militares devem chamar Bolsonaro para os cantos e alertar que uma guerra não é bem assim, que ele deve tomar cuidado com o que diz. Que não basta ter armas e parecer valente para enfrentar inimigos.

Os militares devem lembrar a Bolsonaro que, se fosse fácil, ele não teria perdido uma arma para os bandidos num assalto no Rio, quando era jovem, forte e começava a construir seu histórico de atleta.

Bolsonaro entregou a pistola e a moto e ficou na estrada sem nada, só com o discurso de que um homem armado se defende dos piores bandidos – e até de milicianos, se os milicianos não forem seus amigos.

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Calibragem

Tentar calibrar o discurso de Bolsonaro deve ser a tarefa mais difícil para os que estão por perto e se preocupam com as bobagens que o homem diz.

Bolsonaro é ruim de improviso e está acossado pela CPI do Genocídio, pelo Ministério Público, pela Polícia Federal (que ele descobriu que não é dele) e por Alexandre de Moraes.

Por isso ele deve calibrar bem o latim. Frases em latim são a base de quase tudo o que se diz em quaisquer circunstâncias.

Tem essa frase, que teria sido dita por Cícero, em um discurso mais ou menos 46 antes de Cristo:

“Ut sementem feceris, ita metes”

É aquela famosa lição do cada um colhe o que planta, que os tios diziam em aulas de moral e cívica. Bolsonaro está tentando colher antes de plantar.

E tem mais essa, que não precisa de tradução:

“Oculum pro oculo et dentem pro dente”.

E, para encerrar, mais esse provérbio espanhol:

“La ignorancia es atrevida”.

(Texto originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES)