Didier Raoult, médico francês na origem da defesa da cloroquina para tratar Covid-19, deixa a partir desta terça-feira a direção do laboratório Institut Hospitalo-Universitaire Mediterranee Infection. Ele também será aposentado na universidade Aix-Marseille.
A aposentadoria enquanto professor é obrigatória, dada a idade do cientista de 69 anos. Por outro lado, o regulamento do IHU não prevê limite de idade. Raoult formulou um pedido nas últimas semanas para continuar diretor, o que foi recusado pela administração regional de hospitais.
“Há uma necessidade de virar a página e organizar o futuro do IHU para os próximos 20 anos. Precisamos avançar com rapidez, lançar o processo de seleção. Estamos em plena pandemia e precisamos deste instituto, que é uma ferramenta formidável, e de pesquisadores”, explicou François Crémieux, diretor regional dos hospitais de Marselha, no sul da França.
A imagem do instituto se desgastou desde que Raoult publicou pela primeira vez em março de 2020 um artigo que defendia a eficácia da cloroquina para tratar a infecção por coronavirus. A publicação serviu de argumento para figuras de extrema direita como Donald Trump e Jair Bolsonaro defenderem o tratamento.
Em março deste ano, o instituto até então dirigido por Raoult virou foco de contaminação de coronavirus. Funcionários precisaram ser hospitalizados em estado grave.
Rejeitados por ampla comunidade científica na França e no mundo por falhas metodológicas, os estudos do professor culminaram em duas denúncias por charlatanismo e a abertura de uma investigação da universidade Aix-Marseille.
Sob o mote “Touche pas à mon Raoult (Não mexa com o meu Raoult)”, manifestantes anti-vacina e contrários à apresentação de um passe sanitário (vacinação ou teste negativo contra a Covid-19) para entrar em locais fechados foram às ruas se opor à mudança no instituto.
Em entrevista à televisão francesa, Raoult chamou a decisão de “golpe” e sugeriu que o diretor regional de hospitais age para fazer propaganda para o governo Macron. “Não são decisões guiadas pela racionalidade”, disse.
Questionado, o ministro da Saúde Olivier Véran disse que a mudança é uma decisão “puramente local”.
A nova direção deve ser anunciada até o fim do ano.