Passados intermináveis 4 anos do governo Jair Bolsonaro, uma de suas terríveis marcas que podemos afirmar sem qualquer medo de errar é que foi ele, Bolsonaro, o presidente que mais atacou e degradou a imprensa, mais notadamente a grande mídia oligárquica brasileira.
A virulência e energia gastas para desacreditar e humilhar o velho jornalismo de alcova foram tais que não é absurdo supor que nem mesmo os assim chamados “blogs sujos” (alcunha dada à mídia progressista e independente pelo que de mais reacionário pode haver no setor de comunicação nacional) foram tão achincalhados quanto Rede Globo e et caterva.
Diante da ofensiva da criatura, ficou evidente que a outrora aposta feita por essa mesma grande mídia no “outsider” (hipocrisia pouca é bobagem) contra o então candidato do PT, Fernando Haddad, acabou por se virar contra o criador.
Um tanto quanto a contragosto, mas por providencial instinto de sobrevivência, Globo e suas sucursais, mas não só, se viram na obrigação de se posicionar contrários ao protofascismo em ascensão no Brasil via fenômeno do Bolsonarismo.
Pois bem! uma vez superado Jair Bolsonaro, mas ainda longe de superarmos o bolsonarismo, bastou o novo governo retomar os trilhos da soberania nacional e começar a falar ombro a ombro com as maiores potências econômicas mundiais que essa mesma globo e seus chacais, há pouco tão ridicularizados, já voltam suas armas – como sempre fizerem, por sinal – àqueles que querem fazer desse mero país uma verdadeira nação.
Em suma, não existe nem nunca existiu qualquer projeto de independência e soberania nacional por parte da “elite” brasileira e se em algum momento defenderam a democracia foi porque assim lhes eram particularmente conveniente.
E o que isso nos diz sobre dois badaladíssimos ministros do STF, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes?
Por partes.
Gilmar Mendes, jamais podemos esquecer, foi aquele ministro que com uma só canetada e na esteira da Operação Lava Jato barrou a posse de Lula como ministro da Casa Civil da então presidenta Dilma Rousseff e com isso contribuiu decisivamente para tudo o que já todos nós sabemos.
Logo depois a esse episódio, escancarada suas divergências com o modus operandi dos torquemadas da “República de Curitiba”, Mendes inicia uma verdadeira cruzada contra os justiceiros do Paraná que, como demonstrado pelas recentes reviravoltas contra o então juiz e agora senador Sérgio Moro, tem trazido como resultado um verdadeiro alívio para o devido Estado Democrático de Direito.
Já Alexandre de Moraes, ministro que chegou à Suprema Corte indicado pelo golpista Michel Temer e, portanto, a reboque do golpe de estado de 2016 do qual fez parte indissociável, se viu de uma hora para outra como o principal alvo não só de Jair Bolsonaro, como de todo o bolsonarismo.
Documentos encontrados na esteira das investigações da tentativa de golpe de 08/01 mostram que havia uma predisposição dos bolsonaristas para decretar, inclusive, sua prisão.
Nessa briga particular do bolsonarismo protofascista versus Moraes, ganhou, mais uma vez, a democracia e o Estado Democrático de Direito.
A grande questão, porém, é que estamos diante de dois grandes produtos da intragável burguesia nacional instalados justamente no mais burguês dos poderes constitucionais.
Que suas disputas personalíssimas contra o lavajatismo e o bolsonarismo tenham rendido excelentes frutos para a democracia brasileira, não há o que se por em debate.
O que se levanta, todavia, é que uma vez dado o exemplo mais do que prático da Rede Globo, seria de uma inocência intolerável supor que esses dois produtos da burguesia nacional estejam agora definitivamente alinhados a um governo de esquerda como meses atrás poderia parecer a partir dos posicionamentos da Globo.
Convém não se enganar, estaremos evidentemente todos juntos – esquerda, progressistas, Rede Globo, Moraes e Mendes – enquanto o inimigo for o lavajatismo e o bolsonarismo, comuns a todos, portanto.
À parte isso e uma vez superada completamente essas terríveis chagas de nossa história (e esse dia infelizmente ainda está longe de chegar) não tenham a menor dúvida, a exemplo do que já agora a globo está fazendo com o governo, será também, esculpido em carrara, o que esses dois “heróis” de ocasião farão incontornavelmente com todos nós.
Na luta política, é burrice desperdiçar a providencial ajuda de um aliado de ocasião, da mesmíssima forma que é burrice achar que aliados de ocasião serão aliados para toda a eternidade.
Como dizem os mais sábios, prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.