Haddad, a Faria Lima e o Nordeste. Por Kakay

Atualizado em 10 de outubro de 2024 às 19:20
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

 

O melhor da política é ler e ouvir os comentários mais desencontrados sobre o que pode acontecer com o país. Advoguei para quatro Presidentes da República, mais de 90 governadores e dezenas de ministros e senadores. Sempre me diverti com os comentaristas políticos fazendo análises que, muitas vezes, estavam completamente distantes da realidade. Por isso, também me permito dar meus palpites, sem grandes pretensões, mas colocando minha colher de pau na discussão após as eleições municipais.

Acho engraçado ouvir as afirmações categóricas sobre a provável derrota do PT em 2026. Acho importante lembrar que existe, no Brasil, um fenômeno chamado Lula. Ele foi eleito Presidente da República em 2003, reeleito, e conseguiu eleger sua sucessora, a Presidenta Dilma, que não era uma candidata particularmente popular. Qualquer político teria sido eleito com o apoio dele. É fundamental recordar a história para entender esse fenômeno: ele é o fundador e, praticamente, um grande problema, o dono do PT. Enfrentou um impeachment covarde, criminoso e irresponsável contra a Presidenta Dilma. Hoje, todos admitem que não houve crime. Ou seja, tiraram da Presidência da República uma Presidenta honesta e legitimamente eleita pelo voto popular para atender a interesses políticos obscuros. Crime. Golpe.

Com o clima instaurado no país naquela época, o PT perdeu, na eleição de 2016, 60% de seus prefeitos e vereadores. Enquanto o PT fez 256 prefeituras, o PMDB fez 1.028 e o PSDB – lembram-se dele? – fez 792. Vale lembrar que o afastamento definitivo da Presidenta ocorreu em 31 de agosto daquele ano, e o primeiro turno das eleições municipais foi praticamente um mês depois. Não faltaram analistas políticos prevendo o fim do Partido dos Trabalhadores.

Depois, removeram os principais auxiliares e ministros de Lula, incluindo o grande José Dirceu – que seria seu sucessor natural – para sufocar a continuidade do PT no poder. Insatisfeitos, a ultradireita e a elite econômica prenderam Lula. Por 580 dias, mantiveram-no em uma cela comum. Ele, com muita dignidade, não se rendeu. Mas o país viu o fascismo chegar ao poder pelo voto popular, impulsionado pelo lavajatismo e nas mãos manchadas de sangue do bolsonarismo. O Brasil foi arrastado para o abismo sob todos os ângulos.

O presidente Lula no Palácio do Planalto. Foto: Sergio Lima/AFP

Ainda assim, enfrentando poderosos grupos, com o desgaste de um impeachment criminoso, suportando 580 dias de prisão, com a maior campanha midiática contrária da história do Brasil e enfrentando um movimento nojento e abominável como a Lava Jato, Lula desafiou o Presidente da República em exercício, em 2022. Foi uma campanha de reeleição na qual Bolsonaro gastou cerca de 370 milhões em dinheiro público, e Lula foi eleito. Venceu. Governa o país pela terceira vez. Alguém realmente acredita que as eleições de milhares de pequenas cidades pelo país, elegendo prefeitos do PL, terão alguma relevância nas eleições para Presidente da República? O prefeito eleito de Patos de Minas vai influenciar a eleição para a Presidência?

Por sinal, é interessante observar que, para quem acompanhou as eleições para prefeito, parecia, pela grande mídia, que só havia eleição em São Paulo. De vez em quando, lembravam-se do Rio de Janeiro. E veja que, em SP, o fascista Pablo Marçal ficou fora do segundo turno. E, no Rio, Eduardo Paes deu uma surra histórica em Bolsonaro e seus seguidores. O fascista apoiou um de seus auxiliares diretos, que sequer conseguiu chegar ao segundo turno.

Nesse contexto, é possível imaginar um governador como Tarcísio, que comanda o orçamento de São Paulo, o segundo maior depois do da União, afastando-se do cargo, deixando o governo do estado mais poderoso da federação, para não tentar uma reeleição relativamente tranquila e, em vez disso, enfrentar o velho Lulinha paz e amor? Só que agora com uma pitada de malícia.

Não devemos esquecer que, em 2018, com Lula preso e o PT demonizado, Haddad obteve 44,87% dos votos, ou seja, 47.038.963 eleitores. E isso apesar de ter demorado para sair candidato, já que boa parte da população queria Lula, mesmo ele estando preso. Agora, veja eu aqui fazendo conjecturas como se fosse analista político: a expectativa é pela vitória de Lula em 2026, seguida da pavimentação da eleição de Haddad para a Presidência em 2030. Ele é jovem e brilhante. Já conquistou a Faria Lima, só falta conquistar o Nordeste.

Lembremo-nos sempre de Nietzsche: “Ninguém pode construir por ti as pontes que precisarás atravessar para cruzar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu”.

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