Palmas para Haddad.
Num momento de tanto ódio no Brasil, ele recorreu ao humor para responder a uma grosseria de alguém que reclamou das ciclovias.
No Twitter, Haddad disse que ao comer uma coxinha num bar um coxinha reclamou das ciclovias. “Fiquei confuso”, afirmou. Era muita coxinha junta.
Clap, clap, clap.
Não à toa, as palavras de Haddad viralizaram. Seu tuíte foi replicado mais de 3 500 vezes em um dia.
O Brasil está precisando exatamente disso: de humor na política. O ódio, sobretudo na direita, foi se espalhando a partir dos colunistas vociferantes da mídia conservadora e chegou a um grau insuportável.
Apenas a cultura do ódio pode explicar que pessoas tenham o descaro de importunar alguém como o ex-ministro Mantega num hospital ou num restaurante.
Só a raiva levada ao paroxismo justifica um desequilibrado se atrever a colocar uma camiseta pró-impeachment e comparecer a um congresso do PT depois de dizer que ia “pegar Lula”.
(E só a burrice desonesta leva esse doente a postar uma foto cheio de bandagens de manhã e horas depois postar outra foto em que está, milagrosamente, intacto.)
Só o ódio faz alguém afrontar um pobre frentista haitiano num posto de gasolina com roupas de policial do Bope.
Neste cenário de extrema agressividade, é reconfortante ver uma manifestação de humor como a de Haddad.
Mesmo alegados humoristas como Danilo Gentili e Marcelo Madureira semeiam o ódio.
Faltou, para o trabalho de Haddad ficar completo, fotografar o coxinha que o abordou quando queria uma paz de alguns minutos para comer uma coxinha.
Não chega a ser uma surpresa a atitude de Haddad.
Ele já mostrou que sabe lidar com provocações. Reduziu a nada o historiador Marco Antônio Villa quando este, despreparado como costumam ser aqueles que reúnem arrogância com obtusidade, quis esmagá-lo num programa de rádio.
Não havia coxinha na ocasião, ou pelo menos não se soube que houvesse, mas Villa se comportou como o coxinha do bar a que foi, na presunção de sossego, Haddad.
Quero dizer: não havia o salgadinho. Havia o coxinha Villa, que também conseguiu ir, cegamente, contra o futuro representado pelas ciclovias e pelas bicicletas.
Paris incentiva as bicicletas. Nova York também. Londres também. Copenhague e Amsterdã estão muito na frente, e são admiradas por todos pelo espaço que concederam às bicicletas.
Nenhuma grande cidade do mundo merece respeito se, hoje, não tiver uma política séria de apoio às bicicletas.
Mas Villa é contra as bicicletas. Como também o coxinha que virou piada num tuíte de Haddad.
Haddad, ao consagrar as ciclovias, não fez mais que o óbvio. Só que este gesto óbvio passou lotado por incompetências enfarpeladas como Serra e Kassab quando administraram caoticamente São Paulo.
Que a resposta de Haddad ao ódio germine. O país está precisando voltar a sorrir.
Ainda uma vez, clap, clap, clap.
De pé.