Um nome, uma marca, uma obsessão por ser aceito pelos pares.
A super produção da Netflix “Halston”, estrelada e produzida por Ewan McGregor, nos desenha com delicado ponto de vista a trajetória singular de um criador e designer de moda de muito sucesso.
Digo designer de moda porque ele nunca foi visto pelo mercado da “alta costura” na Europa como um estilista, do clube seleto de ícones como seus contemporâneos Cristobal Balenciaga (1895-1972), Yves Saint Lourent (1936-2018), Hubert De Givenchy (1927-2018) e, o “Rei das Passarelas”, Pierre Cardin (1922- 2020)
Roy Halston Frowick, conhecido como Halston, foi um estilista americano que alcançou fama internacional na década de 1970, mas já marcava seu espaço desde os 60 quando confeccionava chapéus, dentre eles o famoso PillBox que Jaqueline Kennedy usou na posse de seu marido JFK em 1961.
Seus designs minimalistas e limpos, muitas vezes feitos de materiais pouco usados como cashmere ou ultrasuede, tecido que foi popularizado por ele, foram um fenômeno nas discotecas em meados da década de 1970, em especial no mitológico Studio 54 de NY.
Lá desfilavam, se dopavam e brilhavam as estrelas do showbiz novaiorquino que redefiniram a moda americana e comportamento ultra consumista daquela década.
Uma personalidade ultra vaidosa e frágil, seu íntimo contato com o estrelato e com o poder mundial, somados à glamourosa vida hedonista, lhes cobrariam um tanto no final de sua carreira e vida pessoal. Foi, ao final, tragado pelos mesmos mecanismos que lhe forneceram toda glória e projeção.
Percorreu três décadas para criar uma marca, sempre cercado de designers de muito talento e capacidade. Teve apoio de equipes em muitos aspectos melhores artisticamente que o próprio estilista. Ele era um catalizador de socialites e gente de sucesso, mas foi naïf ao tratar das questões financeiras.
A série de 5 episódios esmiuça suas relações com amigos fiéis como Liza Minnelli e seus, até determinado momento, “escudeiros de jornada”. Trata do período sinistro da descoberta do HIV e seu impacto na vida cotidiana da comunidade LGBT e seus desdobramentos trágicos.
A grande sacada da montagem biográfica é identificar a fútil e descartável função do poder artístico em contraponto às artimanhas de um mercado recheado de cobras peçonhentas e tubarões sem escrúpulos, com suas engrenagens de perversidade ímpar.
Nesse mundo, o criador, no caso específico, era mero adereço para as manobras do seus sócios investidores, que o transformaram em garoto propaganda de inúmeros produtos: de malas de viagem a meias elásticas.
Na pré-história da massificação do conceito fashion, Halston mirou no exemplo de Andy Warhol, outro conhecido do estilista nas baladas de NY, na pulverização de produtos e releituras. Algo que achamos comum 2021 era ainda insipiente no segmento de moda entre os 70’s e 80’s, exemplo do que se pode chamar de desenho para lojas de departamentos e afins.
A série é bem dirigida, fotografada e sonorizada. A trilha sonora é muito bem escolhida e retrata, de maneira efetiva, os significados dos vários momentos de sua trajetória, carreira e carência. Outro destaque é a direção de arte, que nos transporta em detalhes muito sutis às atmosferas dos períodos retratados.
Viveu com muita intensidade as mais que óbvias fases de uma estrela: o nascimento, o apogeu e a decadência. Na fase final nosso biografado teve dignidade e talento de se reiventar em literal canto dos cisnes fashion.
https://www.youtube.com/watch?v=ObaYtkq3DVo