Publicado n’Os Divergentes
POR HELENA CHAGAS
Homem experiente, “profissa” do (P)MDB, Michel Temer sabe que suas chances de reeleição são menos do que mínimas. No entanto, está, de fato, entusiasmado com a possibilidade de sair candidato. Por que, enlouqueceu? Não. Está a cada dia mais vivo e esperto. A candidatura Temer não é para ganhar, mas tem mil e uma utilidades. A principal, garantir seu futuro – fora da presidência da República, bem entendido. Entre elas:
1. Com o maior tempo na propaganda eleitoral na TV, o do PMDB, Temer ganha espaço para se defender e mostrar realizações de seu governo, em especial o início de recuperação nos números da economia. Vai dizer também que foi vítima de uma terrível armação nas acusações de corrupção.
2. Temer tentará passar do papel de acusado/investigado ao de mocinho por enfrentar os bandidos do crime organizado no Rio. De quebra, ainda pode atribuir eventuais novidades na investigação de que é alvo a injunções políticas pelo fato de ser candidato.
3. Se o PMDB tiver um candidato próprio, fica resolvido o problema de sua crônica divisão interna. A parte que quer apoiar Lula ou seu sucessor no PT, sobretudo os caciques do Nordeste – Renan Calheiros, Jader Barbalho, Eunício Oliveira – toma seu caminho. A parte que quiser ir para Geraldo Alckmin, irá. Ao final de tudo, todo se juntam novamente em torno de quem ganhar.
4. O PMDB ganha tempo para não ter que se comprometer com Alckmin agora. Com a desistência de Huck e o fim de outras ilusões, o governador de S.Paulo vai se consolidando como a principal candidatura de centro, e seria natural que as forças governistas se unissem em torno dele. Mas há dois “senões” neste momento: a) Temer acha que o tucano não irá defendê-lo no palanque (e não irá mesmo); b) Ninguém tem certeza se Alckmin vai decolar mesmo ou não. Se começar a crescer de forma promissora, lá para junho ou julho o MDB pode apoiá-lo.
5. Ao fim e ao cabo, a candidatura (perdedora) de Temer mantém aberta a porta para que o PMDB apóie quem vencer, seja Alckmin, Lula ou outro qualquer. Para continuar no poder, pois qualquer presidente precisará do apoio emedebista no Congresso. E também – e sobretudo – para dar a Michel Temer e seu grupo o que eles mais vão precisar a partir de 2019: ministérios e embaixadas para que eles mantenham o foro privilegiado no STF e não corram o risco de ir para a cadeia sob a caneta de Sergio Moro e juízes assemelhados.