Henrique VIII segundo Dickens

Atualizado em 16 de maio de 2013 às 14:17

Em suma: um dos mais detestáveis vilões que já apareceram na humanidade.

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Mais um capítulo da série Conversa com Escritores Mortos. Desta vez, convocamos Dickens, para que ele fale sobre uma das figuras mais controvertidas da história inglesa e mundial, Henrique VIII, personagem central domseriado Tudors. As respostas de Dickens foram extraídas de sua História da Inglaterra para Crianças.

Como o senhor definiria Henrique VIII?

Um dos mais detestáveis vilões que já apareceram na humanidade.

Ele é bonitão na série Tudors. Era mesmo?

Ele subiu ao trono aos 18 anos. As pessoas dizem que ele era bonito naquela época, mas eu não acredito. Adulto, ele era grande, largo, narigudo. Tinha olhos minúsculos, rosto enorme e queixo duplo, como sabemos pelo retrato feito pelo famoso Hans Holbein. Além do mais, é difícil que alguém tão canalha possa ter recebido a benção de uma boa aparência.

Como o senhor interpreta o divórcio dele da primeira mulher, a espanhola Catarina de Aragão?

Neste episódio, o rei começou a mostrar seu lado mais genuinamente maligno. Ana Bolena, uma das damas de companhia da rainha, era realmente bonita. E a rainha já não era jovem e nem atraente. O rei se apaixonou por Ana e disse a si próprio: “Como posso me livrar de minha mulher, que já suporto, e me casar com aquela jovem interessante?”

Foi aí que ele afirmou que seu casamento com Catarina devia ser anulado, uma vez que ela fora casada, antes, com o irmão dele, Artur, morto bem jovem, certo?

(Dickens aquiesce, gravemente.) Nenhum padre teve coragem de dizer para ele que era curioso que ele nunca tivesse levantado esse assunto durante todos aqueles anos em que parecera feliz com a rainha. Os padres disseram: ah, é verdade, este é um problema muito grave.

Ana errou ao casar com Henrique?

Ela deveria saber que nada de bom poderia vir de um homem tão ruim, e que aquele tirano que fora tão cruel e infiel com a primeira mulher poderia ser ainda mais cruel e mais infiel com a segunda. O mau casamento que ela fez com um vilão teve o desfecho esperado.

E a execução dela…

Há uma história segundo a qual o rei ficou em seu palácio aguardando ansiosamente o som do canhão que anunciaria mais esta morte. Ao ouvir, ele ficou imediatamente animado, e mandou que seus cães fossem levados para fora para caçar. Ele era ruim o suficiente para fazer isso. Tenha feito aquilo ou não, o certo é que no dia seguinte ele casou com Jane Seymour. Não me agrada contar que ela viveu apenas o suficiente para dar à luz um menino chamado Eduardo, e logo morreu de febre.

E então foi a vez da princesa alemã Ana de Cleves. Foi o poderoso cardeal Thomas Cromwell que fez o papel de cupido, aí, por entende que uma aliança com a Alemanha era vital para a Inglaterra, não é verdade?

Cromwell disse que ela era bonita. O rei mandou o pintor Hans Holbein para a Alemanha para fazer um retrato dela. Não sei se o artista a embelezou no quadro para adular a futura rainha. O que sei é que, ao vê-la pessoalmente, o rei ficou irritado e alegou que jamais se casaria com aquela “baleia alemã”. Como não dava mais para recuar, ele casou. Mas não deu a ela os presentes que iria dar, e a colocou de lado imediatamente. Ele nunca perdoou Cromwell por sua participação no caso. A queda de Cromwell começou aí.

Logo o rei se apaixonaria de novo…

Apresentaram a ele em um jantar a sobrinha de um duque, Catherine Howard, de modos fascinantes, mas de pequena estatura e sem beleza notável. O rei intenvou um pretexto para se divorciar de Ana de Cleves e casou com Catherine. Mas, numa justa retribuição do destino, Catherine fez de verdade as coisas pelas quais Ana Bolena foi injustamente acusada. Então, de novo a guilhotina fez de Henrique um viúvo. Ele ainda casaria uma última vez.

E…

Ela se chamava Catherine Parr, e era viúva de um lorde. É com alegria que informo que ela atormentou o rei em torno de questões religiosas. Por muito pouco não acabou sendo executada, como tanta gente.

E o desfecho?

O rei acabou encontrando a morte por um rei maior, Deus, e a terra se livrou afinal de uma praga. Ele agora era um espetáculo lastimável, inchado, um buraco enorme na perna, e tão odiado que ninguém se aproximava dele. Tinha 56 anos, e era rei há 38. A verdade seca é que ele era um rufião intolerável, uma desgraça para a humanidade, e uma página de sangue para a história da Inglaterra.