O pedido de asilo no Uruguai por parte do ex-presidente peruano Alan García suscitou um debate: Lula deveria ter feito o mesmo? (Não necessariamente no Uruguai, claro).
Investigado num caso envolvendo a Odebrecht, García foi proibido de deixar o Peru pela Justiça e horas depois se apresentou à embaixada uruguaia.
García é investigado por supostamente ter recebido 100 mil dólares da construtora para realizar uma palestra na Fiesp em 2012, dinheiro saído do famoso “departamento de propina”.
O embaixador em Lima, Carlos Barros, afirmou que o governo uruguaio levará “o tempo necessário” para decidir. A resposta, tudo indica, será positiva.
Lula nunca deixou prosperar essa hipótese. No livro “A Verdade Vencerá”, Juca Kfouri o questionou sobre isso.
“Olha, conheço companheiros que ficaram 15 anos exilados e não tiveram voz aqui dentro, no Brasil”, respondeu.
“O preço que vai ser pago historicamente é a mentira contada agora. Eles querem prender? Prendam, paguem o preço”.
Ciro Gomes, antes de virar o Merval Pereira sem bigode, aventou um “sequestro” em entrevista ao DCM.
“Eu quero me voluntariar para formar um grupo, com juristas nos assessorando, que se a gente entender que o Lula pode ser vítima de uma prisão arbitrária, a gente vai lá e sequestra ele e entrega numa embaixada. Isso eu topo fazer”, bravateou.
O ex-ministro Eugênio Aragão frisou para mim que Lula jamais admitiu levar essa conversa adiante.
Ele errou? Pode ser.
Mas a discussão tomou um rumo, em certos círculos, histérico e estéril.
Pode ser incluída na corrente do que se convencionou definir como história contrafactual, baseada em especulações.
Simplificando, é o “what if”. “O que teria acontecido se…”
Na ficção, vale tudo (há uma boa série na Amazon, “The Man in the High Castle”, ambientada num mundo em que Hitler ganhou a Segunda Guerra).
Na realidade, o que esse tipo de fantasia provoca, ao fim e ao cabo, é divisão e desinteligência.
A vítima passa a ser culpada.
Lula, nesse sentido, foi um idiota, irresponsável e covarde de não tentar se asilar. Ou foi manipulado.
Não leva à compreensão histórica, mas a hipóteses e teorias conspiratórias.
Ele não topou por causa de Fernando Haddad, Jaques Wagner e Jackson do Pandeiro, que o ameaçavam com gás sarin e discos de Fagner.
Bastaria uma pequena mudança na linha do tempo e tudo estaria diferente.
Tivesse topado, nossos filhos estariam, agora, colhendo pão de queijo e Coca Cola do chão.
É evidente que a miríade de consequências possíveis nessa elocubração não entra na conta dos fãs dessas conjecturas.
Em tempo de fake news, isso não joga mais luz sobre a resolução de Lula encarar seu destino no Brasil, apenas sombras.
Lula está encarcerado em Curitiba, onde o presidente eleito diz que ele “apodrecerá”.
O que pode mudar esse cenário é encarar a verdade dos fatos — e travar o combater na vida real e não no terreno dos moinhos de vento.
https://www.youtube.com/watch?v=RPEArjQMplM