Meu querido papa,
Quando alguém a quem amamos parte, a saudade é um sentimento constante. Esse é um fato reconhecido por todos aqueles que perderam uma pessoa por quem nutriam os mais especiais sentimentos.
No entanto, há momentos em que essa falta é muito mais intensa.
Isso pode ocorrer em datas comemorativas, como na ocasião do aniversário daquele que se foi, ou em momentos aleatórios nos quais essa companhia perdida é desejada com um fervor especial.
Não há, papa, um único dia em que eu não pense em você.
A duração de meus pensamentos, assim como a dor que sinto ao deparar-me com eles, é variada. Às vezes, passo horas com sua imagem em minha mente e em meu coração. Em outros momentos, tenho somente lembranças passageiras.
Quando penso em você, em geral sou levada a revisitar os momentos finais – os terríveis meses em que transitamos entre a nossa casa e o hospital. Com o tempo, espero que isso passe. Espero que eu possa pensar em nós como éramos antigamente.
Um dos momentos em que mais o amei foi quando ficamos sozinhos, em Londres. Talvez não tenha sido uma época tão boa para você quanto foi para mim, pois a sua mãe faleceu naquele período. Entretanto, não posso deixar de pensar naqueles dias como os melhores e os mais agradáveis de toda a minha vida.
Poucos meses depois de sua morte, passei por um período no qual voltei-me com grande entusiasmo para os romances de Dostoiévski. Os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo…
Enquanto eu os devorava, não conseguia deixar de pensar nas conversas que teríamos. E receio que, em alguns momentos particularmente sentimentais, voltei-me para a sua foto e fiz um ou outro comentário relativo à trama ou às personagens.
Você sempre foi meu melhor amigo e companheiro. Sinto-me alegre ao sair com todas as outras pessoas que fazem parte da minha vida, mas não espero voltar a sentir a felicidade e o prazer que me tomavam quando estávamos juntos.
Quando você se foi, papa, fui confrontada com o fato de que jamais voltaria a amar outra pessoa tanto quanto o amo. Posteriormente, ocorreu-me que essa era somente uma face da moeda. Papa, eu jamais voltarei a ser tão amada quanto fui por você. Isso é triste, mas ao mesmo tempo é um alívio. Poucas pessoas experimentaram um amor semelhante. Nós tivemos sorte.
Consegui prosseguir, ainda que frente a um acontecimento que partiu o meu coração.
Você me inspirou a isso, papa. Não somente por meio de palavras, como naquele dia em que afirmou admirar a minha serenidade diante das adversidades, porém através de seu próprio e indelével exemplo. Apesar da dor que a morte de seu pai lhe causou, você seguiu em frente e permaneceu vivo, criando novos laços afetivos e novas recordações.
Sinto que perdi meu pai, meu filho, meu irmão, meu mestre e meu marido. Você era uma combinações de todas essas coisas na minha vida.
Vinte anos ao seu lado, papa, foram mais satisfatórios e produtivos do que quarenta anos ao lado de qualquer outro teriam sido. Você foi a minha alma gêmea, meu querido. Você é a minha alma gêmea.