Uma entrevista com o revolucionário fictício V, extraída do filme e dos quadrinhos.
Mr. V, você é um com certeza um dos personagens mais misteriosos de todos os tempos. Quem é você?
Quem? Quem é apenas a forma que deve ter um porquê, e o que eu sou é um homem de máscara.
Isso está meio explícito.
É claro que sim. Não questionei seus poderes de observação, apenas enfatizei o paradoxo de perguntar a um mascarado quem ele é.
Oh!
Mas, nessa noite tão auspiciosa, permita-me uma breve apresentação. Voilà! À vista, um humilde veterano vaudevilliano, apresentado vicariamente como ambos vítima e vilão pelas vicissitudes do Destino. Esta visagem, não mero verniz da vaidade, é vestígio da vox populi, agora vacante, vanescida, enquanto a voz vital da verossimilhança agora venera aquilo que uma vez vilificaram. No entanto, esta valorosa visitação de uma antiga vexação permanece vivificada, e há votado por vaporizar estes venais e virulentos verminados vanguardeiros vícios e favorecer a violentamente, viciosa e voraz violação da volição. O único veredicto é a vingança, uma vendetta; mantida votiva, não em vão, pelo valor e veracidade dos quais um dia deverão vindicar os vigilantes e os virtuosos. Verdadeiramente, esta vichyssoise de verbosidade vira mais verbosa, então deixe-me me acrescentar que é uma honra conhece-la e que pode me chamar de V.
O senhor tem uma paixão muito particular por explodir edifícios. Por quê? A explosão de um edifício simboliza, para o senhor, alguma coisa específica?
Edifícios são símbolos, assim como o ato de destruí-los. As pessoas dão poder aos símbolos. Por si próprios, símbolos são insignificantes, mas a partir de um certo momento, explodir um edifício pode mudar o mundo.
Em especial, no dia cinco de novembro. Qual é a razão pela qual o senhor escolhe esse dia específico?
Há mais de quatrocentos anos, um cidadão grandioso desejava cravar o dia cinco de novembro para sempre em nossa memória. Guy Fawkes queria lembrar todo o mundo de que equidade, justiça e liberdade são mais do que palavras; são perspectivas. Como muitos dos cidadãos, aprecio os confortos da rotina e do dia a dia – a segurança do familiar, a tranquilidade da repetição. Mas, no espírito da comemoração desses eventos importantes do passado, em geral associados com a morte de alguém ou com o final de uma terrível luta sanguinária, eu gostaria de dar a certas pessoas um dia cinco de novembro do qual jamais se esquecerão.
O Norsefire, partido fascista que assumiu o Reino Unido pós-guerra nuclear, o feriu profundamente e criou em você um intenso desejo de executar uma vendetta. O que o incomoda no modo de governar do Norsefire? O que provoca sua indignação?
Fui aniquilado. O ódio me ensinou a comer, a dormir, a respirar. Construir meu mundo! E era tudo o que eu tinha correndo pelas veias. Deixando de lado o aspecto pessoal e partindo para o coletivo, a verdade é que há algo terrivelmente errado com esse país. Crueldade e injustiça, intolerância e opressão. Antes, as pessoas eram livres para pensarem, falarem e objetarem como bem entendessem, mas agora temos censores e sistemas de segurança que nos forçam a conformar-se e solicitam nossa submissão. Como isso aconteceu? A quem culpar? Bem, claro que uns são mais culpados do que outros. Mas, se você está realmente procurando pelo culpado, basta olhar para o espelho. Eu sei a razão pela qual as pessoas agiram dessa maneira. Sei que estavam com medo. Quem não estaria? Guerra, terror, doença. Havia uma miríade de problemas que conspiravam para corromper sua razão e roubar seu bom senso. O medo tirou tudo das pessoas, e em seu pânico voltaram-se para o chanceler, Adam Sutler. Ele prometeu ordem, prometeu paz, e tudo o que pediu em retorno foi seu silêncio, seu consentimento obediente. Solicito o final desse silêncio. O povo não deve temer seu governo; o governo deve temer seu povo.
Mr. V, o senhor propõe um sistema anárquico. Quais são suas considerações sobre a anarquia?
A anarquia possui duas faces, de Criador e Destruidor. Os destruidores fazem com que impérios tombem; eles formam a tela de alvenaria pura em cima da qual os criadores arquitetam um mundo melhor. Vamos acabar com os explosivos, vamos acabar com os destruidores! Não há lugar para eles em nosso mundo melhor. Mas vamos, antes, brindar a todos os bombardeiros, todos os bastardos, até mesmo aos mais desagradáveis e imperdoáveis deles. Vamos beber à sua saúde, e então nunca mais vê-los.
A Conspiração da Pólvora aconteceu há séculos – mas o senhor acha que os ideais e os princípios de Guy Fawkes continuam intactos?
Um homem pode falhar – ele pode ser perseguido, morto e esquecido, mas 400 anos depois, suas ideias podem mudar o mundo.
Revolucionários como o senhor costumam ser perseguidos e mortos. O senhor não teme seu destino? O senhor está consciente de que sua integridade poderia custar sua vida?
Não. Atrás dessa máscara, há uma ideia. E ideias são à prova de bala. Nossa integridade, ainda que seja vendida por tão pouco, é tudo o que temos. Se há algo pelo qual vale a pena morrer, é por ela.