“Identitarismo e populismo de extrema direita polarizam a sociedade”, diz cientista político

Atualizado em 1 de novembro de 2023 às 16:06
Yascha Mounk

Em entrevista à BBC, o cientista político alemão-americano Yascha Mounk discute a “armadilha identitária” e a crescente ênfase da política progressista na identidade sobre valores universais.

Ele argumenta que muitos, na esquerda, começaram a priorizar características de identidade (como raça, gênero e orientação sexual) sobre valores universais, como liberdade de expressão e igualdade de oportunidades.

Mounk acredita que essa abordagem não apenas falha em resolver problemas de representatividade, mas também pode levar à alienação de muitas pessoas e ao fortalecimento da extrema direita populista.

A questão da identidade também está afetando as políticas públicas, e ele cita o exemplo de uma escola em Atlanta, nos EUA, onde uma mãe negra foi informada de que sua filha não poderia se matricular em uma determinada classe porque “essa não é a classe dos alunos negros”.

Mounk defende uma abordagem mais universalista, argumentando que a ênfase excessiva na identidade pode levar à segregação e polarização, em vez de promover a igualdade e a compreensão.

“A síntese identitária, como a chamo, e o populismo de extrema direita, são talvez opostos um ao outro ideologicamente, mas em termos práticos e políticos, cada um ajuda a polarizar a sociedade e acaba por reforçar a posição do outro”, diz.

Mounk referiu-se ao seu livro “The Identity Trap”, argumentando que, embora prometa combater injustiças, a abordagem identitária pode ser contraproducente, causando mais problemas do que soluções. Como exemplo, citou a decisão do Centro de Controle de Doenças (CDC) nos EUA de não priorizar os idosos na vacinação da COVID-19 devido a questões de equidade, resultando em desigualdades.

Mounk também abordou o paralelo entre identitarismo e populismo de extrema direita, em que ambos podem polarizar a sociedade e reforçar o outro. Ele discutiu o risco dessas ideias dominarem as instituições tradicionais, levando à perda de confiança do público.

Mounk, um pensador de esquerda, enfatizou a importância de abordar os problemas dentro do próprio espectro político para combater eficazmente a extrema direita.

Sobre a questão da representatividade, ele reconheceu sua importância, mas criticou a abordagem das cotas, argumentando que pode desvalorizar candidatos qualificados. Para Mounk, haverá uma contínua disputa sobre o significado de ser de esquerda e a influência das ideias identitárias nas principais instituições nas próximas décadas.