Publicado originalmente pelo Correio RAC:
Por Alenita Ramirez
A abertura da Igreja Assembleia de Deus – Jardim Morada do Sol Filial 1, em Indaiatuba, mesmo após a morte de uma fiel do local de 77 anos, no último dia 15, gerou polêmica e revolta, em especial nas filhas da vítima. Por determinação dos líderes, a igreja se manteve aberta, mesmo com a recomendação das autoridades para isolamento social como forma de evitar a disseminação da Covid-19.
Em três vídeos que circulam nas redes sociais aparecem dois líderes da igreja na cidade, o presidente Raimundo Soares e o vice, Neuton Lima. Nas gravações, os pastores usam da fé para sustentarem a decisão deles para manterem as igrejas abertas. “(…) vamos continuar orando porque há um número de irmãos que estão em casa com medo de um fantasma que não existe, é uma propaganda enganosa, mentirosa(…) é uma enfermidade comum como qualquer outra enfermidade”, cita Soares em um trecho da pregação.
A idosa, Jadilce Batista da Silva, frequentava a igreja havia 33 anos, e era casada com o aposentado Manoel Rosa da Silva, de 74 anos, que também morreu em decorrência da doença. O casal faleceu na primeira quinzena deste mês, com diferença de cinco dias entre um óbito e o outro.
Jadilce ia sozinha na igreja, já que o marido, parou de ir há alguns anos. A mulher foi a primeira a apresentar os sintomas do novo coronavírus. O idoso apresentou uma semana depois, quando ela já estava internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). As próprias filhas admitem que os pais eram ativos, faziam caminhadas diárias e iam a supermercados, sem tomarem nenhum tipo de precaução.
“Não tenho como provar que foi na igreja, mas irmãs da igreja da minha mãe falaram da aglomeração, que ia muita gente. E que a maioria não usava máscara de proteção e nem ofereciam álcool gel. Eu verifiquei com o grupo de amigos que meus pais faziam caminhadas e ninguém apresentou nenhum sintoma até agora”, disse a filha caçula do casal, Cibele Batista da Silva dos Santos, de 39 anos.
A morte do casal foi tema de uma reportagem publicada na edição de ontem do Correio Popular. O pastor da igreja de Jadilce, Fausto, segundo o próprio filho dele, foi diagnosticado recentemente com a Covid-19 e está recebendo cuidados em casa.
O pastor também frisou que a igreja seguia a bíblia e o estatuto dela e também todas as normas impostas pelo Ministério da Saúde e a Prefeitura de Indaiatuba . “Vou deixar tudo esclarecido para acabar com essa frescurite. Aqui quem quiser vir com máscara, venha, mas quem não tem problemas”, citou.
Contraditório
Durante pregação na igreja matriz, Lima chegou a dizer que o pastor estava com dengue, mas a nora do pastor contestou nas redes sociais e garantiu que o sogro estava com o coronavírus.
Em vídeo, Lima também critica o uso de máscara de proteção facial e frisa que nenhum fiel é obrigado a usar o equipamento, já que a fé afasta a doença. “(…) somos testemunhas da cura e milagres que Deus tem feito e agora, de repente, ficarmos com nossas igrejas fechadas? isso é um absurdo!”, disse o pastor que chegou a citar que afrontou a Promotora Pública da cidade, quando foi questionado sobre a manutenção da igreja aberta. “(…) a promotora disse que se fosse provado que alguma pessoa dentro da igreja fosse infectada, que nos estaríamos sendo responsáveis criminalmente e civilmente. Eu disse a ela que tínhamos essa consciência (…)”, disse.Moradores nas proximidades onde funciona a igreja que Jadilce frequentava confirmaram a presença de grande número de fieis nas celebrações, inclusive a frequência da idosa no local, sem a máscara de proteção.
A reportagem procurou Lima e representantes da igreja, mas não houve retorno. O Ministério Público também não se manifestou. A Prefeitura afirma que intensifica as visitas para orientações sanitárias e de segurança.