Políticos de diferentes partidos condenaram, nesta quinta-feira (19), as declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), atribuindo à China a responsabilidade sobre a pandemia da COVID-19. Via Twitter, a alegação chegou a envolver o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, que teceu duras críticas ao parlamentar, e até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se desculpou pelo colega.
“Quem assistiu Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução”, escreveu Eduardo, sem apresentar quaisquer provas.
Em meio à expansão crescente da doença no Brasil, congressistas não pouparam na reprimenda.
“Como se a luta contra o coronavírus não fosse suficiente, o governo arruma briga com nosso maior parceiro comercial, por causa de uma postagem do filho do presidente. Esse é o Brasil de Bolsonaro: toda a energia dedicada às lambanças da família. Não conseguem unir, só dividir”, declarou o líder do PSB, deputado Alessandro Molon (RJ).
Colega de partido, João H. Campos (PE) chamou Eduardo de ‘amador. “Não sei o que é mais louco: 1 – O filho do presidente, defensor de governos autoritários, criticar sem prova o Governo da China; 2 – Gratuitamente, arranhar a relação com o maior parceiro comercial do Brasil. Chega de amadorismo, Eduardo Bolsonaro”, comentou.
“Como no Brasil as coisas vão ‘muito bem’, Eduardo resolveu criar confusão com a China. O ataque dele, que é o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, merece repulsa absoluta. Imbecilidade sem tamanho, ainda mais pelo cargo que ocupa. Será que ele esqueceu que a China é o país com maior volume de relações comerciais com o Brasil?”, questionou o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA).
Ex-governador do Ceará e provável candidato à presidência em 2022 pelo PDT, Ciro Gomes também não usou filtros para se referir à crise protagonizada pelo filho do presidente. “A Câmara Federal tem que abrir o processo de cassação deste marginal Eduardo Bolsonaro!”, defendeu.
Líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) acusou o clã Bolsonaro de atuar contra o país. “A China é um dos nossos principais parceiros comerciais, além de ter experiência e recurso no combate ao Coronavírus, e com certeza vamos precisar de ajuda. Mas a irresponsabilidade da família Bolsonaro chega a ser criminosa contra os interesses do Brasil”.
Eleito pelo PSOL, Marcelo Freixo (RJ) buscou enquadrá-lo. “Em vez de procurar briga com a China, nosso principal parceiro comercial, Eduardo Bolsonaro deveria estar trabalhando para ajudar o país a enfrentar a crise. Chega! Parem de jogar com a vida dos brasileiros! Assumam a responsabilidade ou ao menos não atrapalhem quem quer trabalhar!”, declarou.
“O oligofrênico do hambúrguer culpa o Partido Comunista Chinês pelo coronavírus. Recebeu uma resposta contundente, pouco usual, do embaixador da China. Acho que eles estão percebendo que Bolsonaro não tem mais viabilidade. Perderam a paciência chinesa. Terá consequência”, alertou a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
Em nota assinada por Gleisi, o Partido dos Trabalhadores afirmou que “neste momento delicado em que toda a humanidade faz esforços para superar calamidade ainda de dimensões incertas, a união de todos os países é fundamental”.
Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do Governo na Câmara, aproveitou a situação para tripudiar do hoje adversário. “As relações comerciais que não foram afetadas pelo coronavírus podem ter sido implodidas por um tuíte lacrador do filhote do presidente. Como os produtores rurais estão se sentindo?”
Depois de toda a repercussão e da exigência por um pedido de desculpas feita pelo embaixador chinês, Eduardo Bolsonaro afirmou, novamente pelo Twitter, que a interpretação foi equivocada. “Jamais ofendi o povo chinês, tal interpretação é totalmente descabida. Esclareço que compartilhei postagem que critica a atuação do governo chinês na prevenção da pandemia”.
Na mesma rede, brasileiros se revezaram pedindo desculpas aos chinesas, fazendo com que a hashtag “DesculpaChina” se tornasse um dos assuntos mais comentados do dia.
Deputado pelo PPS-SP, Roberto Freire inclusive a utilizou. “Eduardo Bolsonaro, filho 03, ataca a China. Araújo, ministro teleguiado, dobra a vergonha e enxovalha o nome do Brasil institucionalmente. Pôs interesses eleitorais e familiares acima da política externa. Fala pelos “eleitores” de Bolsonaro, não pelos brasileiros. #DesculpaChina”, escreveu o parlamentar em suas redes.