A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), trouxe à tona graves acusações envolvendo o ex-mandatário e membros da alta cúpula militar de seu governo em um suposto plano para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Essa delação fez com que a última transmissão ao vivo de Bolsonaro durante seu mandato se tornasse alvo de investigação por parte da Polícia Federal (PF).
Os investigadores estão considerando a transmissão ao vivo feita pelo ex-capitão em 30 de dezembro do ano passado, realizada poucas horas antes de sua viagem aos Estados Unidos, como uma “prova indiciária” que pode fornecer pistas para aprofundar as investigações. A informação foi divulgada pelo colunista Josias de Souza, do UOL.
Na referida live, Bolsonaro fez menção à posse de Lula, agendada para dois dias depois, e declarou: “Eu busquei dentro das quatro linhas, dentro das leis, saída para isso aí”. Pouco tempo após essa transmissão ao vivo, especificamente em 12 de janeiro, a PF realizou uma busca na residência do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e apreendeu uma minuta de decreto presidencial que tinha o objetivo de instaurar o Estado de Defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Além disso, durante as investigações no celular de Mauro Cid, os agentes da PF descobriram uma minuta que apontava para um plano de golpe de Estado no país, envolvendo a decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e a previsão de estado de sítio, tudo “dentro das quatro linhas” da Constituição.
O artigo 239 do Código de Processo Penal define “indício” como “a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”.
Com base nessa definição, os investigadores acreditam que a última live de Bolsonaro, exibida horas antes de sua fuga para a Flórida, constitui um indício de que, derrotado por Lula, o ex-mandatário conduziu as tratativas golpistas que Mauro Cid diz ter testemunhado.