O influenciador Júnior Paixão, conhecido por promover jogos com crianças tendo como prêmio comida e por polêmicas familiares como, por exemplo, deixar a própria mãe na sarjeta, está sendo criticado nas redes sociais após promover uma gincana para as pessoas mais pobres ganharem comida.
A proposta da “brincadeira” é fazer com que os competidores lancem uma bola tentando acertar um cesto que os conduz direto aos prêmios (pasmem, dois litros de óleo, dois quilos de arroz e dois pacotes de café).
As pessoas, que preferem, por óbvio, qualquer humilhação à completa miséria, aderem à gincana na esperança de não dormirem com fome.
Luciano Huck tá diferente: o apresentador, conhecido por expor pobres ao ridículo antes de dar-lhes uma esmola, aparentemente tem feito escola.
➡️ Influencer faz gincana para dar alimentos básicos e causa polêmica
O influencer Junior Paixão, que ficou conhecido por promover jogos com crianças tendo como prêmio comida, provocou polêmica ao realizar uma gincana com pessoas mais necessitadas.
Nos vídeos, as pessoas formam… pic.twitter.com/XxSK5kSSPI
— Metrópoles (@Metropoles) October 18, 2023
Que é perverso, sórdido e absurdo humilhar pessoas necessitadas e chamar isso de entretenimento nós já sabemos: aprendemos nos tantos anos de espetacularização da pobreza no programa de Luciano Huck.
Mas, no caso de Júnior Paixão, a coisa é ainda mais abjeta: esse influenciador, que hoje tem uma vida confortável graças ao que ganha na internet, poderia estar no lugar das pessoas que se rendem à sua humilhação por dois quilos de arroz.
Impossível não recorrer ao clichê freireano: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar opressor.”
Para além de uma educação não libertadora – ou mesmo da falta de qualquer educação -, Júnior Paixão mostra mais do que a vontade de simplesmente oprimir: revela também uma completa ignorância acerca de sua própria classe social.
Pobre humilhando pobre: nada poderia ser tão conveniente ao capitalismo, e graças a gente podre como esse influenciador, tem se tornado o novo normal.
E o pior disso tudo é que a atitude sórdida do influenciador dividiu opiniões: enquanto alguns criticam – boquiabertos, como eu me encontro neste exato momento – a gincana, outros a enxergam como “uma forma lúdica de ajudar aos mais pobres”.
Lúdica meu ovário! Desde quando humilhar pobre pra ganhar like na internet é lúdico? Existem outros adjetivos pra isso, mas me parece que já usei os principais.
Em um país em que a fome ainda assola milhões de pessoas, ver um homem negro, pobre premium e periférico humilhando seus próprios pares para chamar a atenção chega a ser aterrador.
A fome mata. A fome dói. Qualquer um que não se sensibilize com outros seres humanos que não conseguem o básico – que é se alimentar – é digno de desprezo.
O escárnio desse influenciador aos mais pobres, que deveria considerar sua comunidade e rede de apoio, é obsceno, e só nos revela, uma vez mais, que as redes sociais estão, a cada dia, conseguindo arrancar o pior das pessoas.
Tem mais é que ser cancelado, sim. Fome não é espetáculo.