Influenciadores são a doença do século. Por Nathalí

Atualizado em 2 de setembro de 2023 às 16:41
Rosa Tavares, influenciadora que se envolveu no acidente com Tales Roque. Foto: Instagram

Uma mulher chamada Rosa Tavares é uma influenciadora famosa. Não acredito tanto nisso, visto que nunca se ouviu falar dela cá por essas bandas, mas, famosa ou não, ela matou um personal trainer no trânsito ao atingir sua moto.

O caso aconteceu em Manaus, e a influenciadora, morrendo de medo de ser cancelada, fez o que todo culpado faz diante do tribunal na internet: pedir desculpas. Mas, nesse caso específico, talvez a tal Rosa Tavares não quisesse apenas se safar da culpa, mas ocupar um lugar de vítima (sabendo que a verdadeira vítima está a sete palmos do chão).

“Eu não estou com capacidade nenhuma para nada nesse momento. O que ocorreu hoje foi uma grande fatalidade. Só Deus e meus familiares sabem como está meu coração”, disse.

Mensagem postada por Rosa Tavares em seu Instagram logo após o ocorrido. Foto: Instagram

Ao invés de pedir perdão sincero à família, ela diz que “não está com capacidade nenhuma”, certamente pra se proteger e sumir da internet até a poeira baixar. Rosa não é a única influenciadora que se envolve em confusões e vive sem se importar com o outro, o próximo, o semelhante, como queiram chamar.

Já teve influenciadora roubando Ifood do vizinho, cuspindo na boca de um gato, criando capivara ilegalmente, divulgando jogo de azar, uma infinidade de coisas que essa gente se sente no direito de fazer.

Reluto em sequer entender qual a lógica dos influenciadores no capitalismo tardio.

Me parece que eles apenas pensam que suas vidas são mesmo muito importantes e que tudo bem transformá,-las em uma narrativa na internet, onde veste-se um personagem incapaz de ser sustentado naquilo que ainda chamados de vida real. Em nome do like – nosso “amém digital”, diria o filósofo Byunh Chu Han – os chamados influencers fazem qualquer negócio, prejudicam qualquer pessoa, esvaziam-se sobretudo de si mesmos para levarem uma vida performada nas redes sociais.

É preciso aceitar, entretanto, que a virtualização da vida no que chamados de sociedade tecnológica não retrocederá.

Nossa comunicação continuará cada vez mais capenga, atravessada por algoritmos mais do que eficazes.

Até a dança o Tik Tok profanou ao estabelecer que as músicas mais promovidas pela indústria cultural – e também as de menor qualidade, e não à toa – tinham que ser dançadas com passinhos pré-concebidos, uma dança sem liberdade, sem expressão, igual para todos os usuários.

É possível compreender por quê Rosa Tavares teve um posicionamento tão frio e autocentrado: para os influencers, absolutamente tudo é sobre eles.

Dentro de suas bolhas recheadas de puro ego, os influencers – talvez a doença do século – têm mais pavor de serem cancelados do que de MATAREM um ser humano.

Espero que sumir da internet não seja o suficiente para Rosa Tavares, e que seja constatado, através de perícia, se realmente não houve negligência da influenciadora – nesse caso, tratar-se-ia de um homicídio culposo, passível de pena de prisão.

Quanto ao cancelamento, acho que não vale a pena: Rosa Tavares não é exatamente famosa e eu aposto que é a primeira vez que você ouve falar deste nome.

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