No último domingo (15), a youtuber Karol Eller foi espancada enquanto estava com sua namorada num quiosque na Barra da Tijuca (RJ). O ataque lesbofóbico deixou seu rosto completamente desfigurado.
Segundo relato, o agressor foi se aproximando à medida que assediava o casal. Entre palavras de baixo calão, ele repetia provocações do tipo ‘você não é homem? Você é muito macho?’ enquanto disparava socos e chutes em direção à vítima.
‘As pessoas andam perdendo a noção por completo’, disse Aray Abujamra, amiga de Karol. As duas conviviam em Miami, nos Estados Unidos, antes da youtuber voltar para o Brasil, pouco antes de receber um cargo na Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Em 2018, Karol fez campanha para o atual presidente Jair Bolsonaro. Amiga de seu filho mais novo, Jair Renan, ela assume posicionamentos polêmicos sobre a comunidade LGBT.
Em vídeos postados, a youtuber já chegou a dizer que a denúncia das mortes por homofobia é ‘vitimismo’. Isso levou alguns internautas a comemorarem a agressão sob a justificativa de que ‘sentiria na pele’ a causa da luta que condena.
Na sua conta do Instagram, Karol postou um exemplo:
https://www.instagram.com/p/B6OZxp0FZX8/
‘Nenhum ser humano merece passar por isso, seja qual for seu posicionamento sobre qualquer coisa. As pessoas podem discordar, debater, mas não bater e esmurrar ninguém’, completa Aray, que fez uma postagem solidária a Karol em seu Instagram.
Entre outras postagens de apoio, está a de Guilherme Sant’Ana, que também conheceu a youtuber durante os 15 anos em que viveu nos EUA. O colega conta que não conseguiu entrar em contato com Karol, mas que ela mandou um recado: está bem, mas ‘ruim de enxergar’.
Sobre a falta de solidariedade por parte de alguns grupos, Guilherme comenta: “As pessoas deixam de ser humanas para virar ‘bichos’ por causa da ‘cor da camisa’”.
Lesbofobia
“Não podemos reproduzir o discurso do ‘bem feito’, sob o risco de reproduzirmos práticas de justiçamento”, comentam as editoras da Brejeiras, revista feita por mulheres lésbicas, que discute as dificuldades que essa minoria enfrenta. Para elas, discursos de vingança só contribuem para o aumento da problema.
No mesmo dia em que Karol foi agredida, internautas bolsonaristas começaram a levantar a hipótese de que a violência não tinha sido motivada por um preconceito sexual, mas político.
“Agressões lesbofóbicas tendem a ser descaracterizadas”, explicam. Para elas, essa é uma estratégia antiga e muito usada para tirar visibilidade do movimento.
A violência sofrida por Karol, segundo as ativistas, é resultado dos discursos de ódio comumente disseminados atualmente, que “são instrumentos de violação dos direitos humanos, negam as violências sofridas por LGBTs e barram a possibilidade de políticas públicas para a nossa proteção”.
Outro ponto abordado pelas editoras é o fato da youtuber se posicionar contra um movimento que luta pelos direitos de uma minoria da qual faz parte. “É difícil para todas nós admitirmos que somos vítimas de violência por sermos quem somos”, interpretam. “Às vezes, ainda, alguns privilégios de raça e classe dão uma sensação ao sujeito de estar imune à violência”.
Agressão
No depoimento prestado à polícia nessa terça (17), o agressor de Karol, Alexandre da Silva, contou uma versão completamente distinta da original sobre o acontecido. Segundo ele, a vítima estava sob efeito de drogas e carregava uma arma. Conta, ainda, que ela havia começado a confusão, da qual apenas se defendera.
Em entrevista dada à Época, Karol Eller rebate o discurso: “alguém que quer só se defender, não teria me espancado. Poderia se defender de outras mil formas possíveis. Ele me deu murros na cara, chutou meu rosto. Me deixou desmaiada no chão e fugiu do local do crime”.
Só há uma forma de definir Karol neste acontecimento: ela é vítima. Ponto final.