Intervenção do Brasil evita invasão de embaixada argentina na Venezuela

Atualizado em 30 de julho de 2024 às 20:31
O embaixador Celso Amorim caminhando com roupa de frio e expressão serena
O embaixador Celso Amorim, assessor especial de Lula (PT) – Reprodução

A crise diplomática entre Venezuela e Argentina se intensificou logo após o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela declarar vitória para Nicolás Maduro, mesmo antes da conclusão da apuração dos votos.

Os presidentes dos dois países iniciaram uma troca de insultos que culminou em protestos nas ruas de Caracas, com manifestantes chavistas ameaçando invadir a embaixada argentina. De acordo com José Roberto de Toledo, colunista do UOL, a intervenção do governo brasileiro foi crucial para evitar que o confronto verbal se transformasse em violência física.

O embaixador Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula (PT), estava em Caracas durante as eleições e foi informado sobre os protestos na embaixada da Argentina. Chavistas ameaçavam invadir o local, o que representaria uma escalada grave na crise diplomática, com potenciais desdobramentos desestabilizadores para a América do Sul.

O brasileiro, que mantém diálogos tanto com o governo Maduro quanto com a oposição, intercedeu junto ao governo venezuelano para controlar os manifestantes. A estratégia funcionou temporariamente, demonstrando a influência do governo atual sobre as ruas de Caracas.

Histórico de Conflitos

As tensões entre Argentina e Venezuela aumentaram após a eleição do direitista Javier Milei, que critica o governo de Maduro, chamando-o de ditadura comunista. Porém, os problemas diplomáticos começaram ainda no governo de Alberto Fernández, quando um avião venezuelano foi retido em Buenos Aires a pedido dos Estados Unidos. O incidente envolveu um Boeing 747-300, acusado de estar ligado ao terrorismo, e agravou a crise:

  • O avião ficou retido por dois anos em Buenos Aires.
  • Em fevereiro de 2024, o governo Milei enviou o Boeing para os EUA.
  • Em resposta, Maduro acusou Milei de roubo e bloqueou o tráfego aéreo argentino sobre a Venezuela.

    Nicolás Maduro sério, perto de microfone, gesticulando
    O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro – Reprodução

Escalada da Crise

Após a recente eleição, na qual não houve apresentação dos boletins de urna, a troca de ofensas entre Milei e Maduro intensificou-se:

  • Javier Milei tuitou “Fora, ditador Maduro”.
  • Maduro respondeu chamando Milei de sádico e covarde.

A crise diplomática se agravou com a expulsão de diplomatas de sete países latino-americanos que contestaram a reeleição de Maduro, incluindo Argentina, Uruguai, Chile, Equador, República Dominicana, Costa Rica e Panamá. Com a Venezuela já sem relações diplomáticas com os EUA, restaram apenas Brasil, Colômbia e México como mediadores da crise.

Papel do Brasil na Mediação

O governo brasileiro, pressionado por EUA e países europeus, como a Noruega, foi instado a manter sua posição de mediador, mantendo canais abertos com ambos os lados venezuelanos.

No entanto, o presidente Lula enfrenta críticas internas por sua postura aparentemente leniente em relação ao governo Maduro. A decisão do Partido dos Trabalhadores de reconhecer a vitória de Maduro aumentou a percepção de conivência, apesar da separação entre partido e governo.

Consequências Potenciais

Isolado e pressionado, Nicolás Maduro pode adotar ações imprevisíveis, como invadir a Guiana para reivindicar o território petrolífero de Essequibo ou intensificar a repressão interna, possivelmente desencadeando uma guerra civil.

Em qualquer dos cenários, o Brasil enfrentaria conflitos armados em suas fronteiras e uma crise de refugiados, especialmente em estados fronteiriços como Roraima, que já abriga cerca de meio milhão de venezuelanos. A crise imigratória poderia se espalhar pelo país, situação que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) poderia usar a seu favor politicamente.

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