POR ALDO FORNAZIERI, diretor da Fundação Escola de Sociologia e Política de SP desde 2006
Sobre a intervenção Federal na segurança pública do Rio de Janeiro:
1 – O Brasil é um país extremamente violento. Em números absolutos é o país que mais mata no mundo. No ranking elaborado pela ONG mexicana, Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, que goza de reputação internacional, detre as cidades mais violentas do mundo, o Brasil tem 19. Mas nenhuma dela é o Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro é uma cidade violenta, mas existem várias cidades mais violenta do que o Rio dentre as cidades brasileiras;
2 – Durante o Carnaval de 2018, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública RJ, 16 dos 27 indicadores de segurança caíram em relação ao Carnaval de 2017. O indicador de homicídios, por exemplo, caiu 14,81% e o de roubos teve uma queda de 9,85%. Um dos grandes problemas do Rio, como todo mundo sabe, é a guerra entre facções do crime organizado. Mas esta guerra existe em vários estados e em várias prisões de outros estados. Em São Paulo, onde não há essa guerra, o crime organizado tem muito mais amplitude e força do que no estado do Rio de Janeiro;
3 – A intervenção Federal na Segurança Pública no Rio de Janeiro não se justifica. Ela tem um caráter eminentemente político e visa encobrir o fracasso do governo Temer na reforma da previdência e dar uma sobrevida a esse governo moribundo. Governo que perdeu o sentido de existência mesmo para aqueles setores que apoiaram o golpe. Ao buscar essa agenda da segurança pública para sobreviver, ela funciona como uma espécie de balão de oxigênio para um governo que vive os seus estertores;
4 – A intervenção expressa uma inescrupulosa utilização das Forças Armadas, não para garantir segurança aos cidadãos, mas para atender objetivos políticos inescrupulosos de um governo ilegítimo. As finalidades das Forças Armadas não se orientam para a Segurança Pública e elas nem tem preparo para isto. A violência e a falta de segurança pública estão imbricadas num complexo de causas que não serão superadas pela via da força militar;
5 – A intervenção na Segurança Pública do Rio não tem força para inviabilizar as eleições gerais de 2018, mas ela pode causar perturbações no processo eleitoral. A tese de que pode haver uma suspensão das eleições é coisa da esquerda medrosa, acuada e sem estratégia para enfrentar esse governo ilegítimo e golpista;
6 – De duas uma: essa intervenção, pelo seu caráter puramente político, ou não dará em nada ou será um tiro no pé que o próprio governo se deu. No mais, essa intervenção é mais uma faceta da guerra contra os pobres que se trava neste país.