Investigado por golpismo, Bolsonaro atacou a democracia a cada 23 dias de seu governo

Atualizado em 15 de janeiro de 2023 às 8:01
Jair Bolsonaro
Bolsonaro, que sempre deixou claro sua falta de apreço pela democracia. Reprodução

Um levantamento feito pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação (ECMI) da FGV e divulgado pelo jornal O Globo apontou que, Jair Bolsonaro (PL) fez um ataque aos Poderes e à legitimidade das urnas a cada 23 dias. Esse número leva em conta o que aconteceu desde o início de 2020, quando o ex-presidente, que está sendo investigado em seu eventual envolvimento nos atos terroristas do último dia 8 em Brasília, adotou uma rotina explícita de ameaças contra a democracia.

“Bolsonaro lançou mão de um sistema de comunicação dupla, combinando um discurso no espaço público com as narrativas que circulam no mundo subterrâneo de desinformação nas redes. Nesse contexto, seu silêncio público nunca foi um silêncio para as redes bolsonaristas. Era uma ação política concreta, de ambiguidade para o não reconhecimento de uma derrota, dando sequência à incitação permanente da militância”, pontuou o historiador João Cezar de Castro Rocha, autor do livro Guerra cultural e retórica do ódio, que analisa a comunicação do político.

Confira as quantidades e algumas das ameaças de Bolsonaro ao STF, Congresso e às eleições:

2020: 10 ameaças, sendo as mais destacadas:

25 de fevereiro: Compartilhou vídeos no WhatsApp convocando para protestos com ataques ao Congresso e ao STF, com frases como “vamos mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil” e “vamos resgatar o nosso poder”

28 de maio: “Acabou, porra. Ontem foi o último dia” foi uma ameaça feita por Bolsonaro após uma operação da Polícia Federal contra empresários investigados por ataques ao Supremo. Na mesma data, um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), disse que se aproximava um “momento de ruptura”

17 de junho: Bolsonaro fez ataques ao STF em conversa com apoiadores: “Eu não vou ser o primeiro a chutar o pau da barraca. Eles estão abusando. (…) Então, está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”. No dia seguinte, com a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz, os ataques acabaram.

2021: 22 ameaças, sendo as mais destacadas:

7 de janeiro: No dia seguinte à invasão ao Capitólio por apoiadores de Trump, Bolsonaro previu roteiro semelhante no Brasil: “Se não tivemos voto impresso, uma maneira de auditar o voto, vamos ter problema pior que nos Estados Unidos”

14 de maio: Durante cerimônia de governo, Bolsonaro atacou o Supremo por postura em relação a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e as urnas eletrônicas: “O bandido foi posto em liberdade, foi tornado elegível, no meu entender para ser presidente na fraude. Ele só ganha na fraude no ano que vem”

7 de setembro: Em discurso na Avenida Paulista, Bolsonaro chamou as urnas eletrônicas de farsa e atacou o STF: “Qualquer decisão do ministro Alexandre de Moraes este presidente não mais cumprirá. (…) Acabou o tempo dele. Sai, Alexandre de Moraes, deixe de ser canalha”. Ameaçado por pedidos de impeachment, escreveu uma carta com desculpas dois dias depois.

2022: 14 ameaças, sendo as mais destacadas:

18 de julho: Durante apresentação a embaixadores, Bolsonaro acusou, sem fundamento, as urnas eletrônicas: “Por ocasião das eleições de 2018, o eleitor ia votar e simplesmente não conseguia. Ou apertava número 1 e depois ia apertar o 7 e aparecia o 3, e o voto ia para o outro candidato”.

7 de setembro: No bicentenário da Independência, Bolsonaro disse que “a história pode se repetir” após citar golpes militares de 1922, 1935 e 1964, e repetiu ameaças a outros Poderes: “Com a minha reeleição, nós traremos para as quatro linhas todos aqueles que ousarem ficar fora delas”.

30 de dezembro: No último pronunciamento de seu mandato, o ex-presidente afirmou que buscou “alternativas” para a posse de Lula: “Agora, certa medida tem que ter apoio do Parlamento, de alguns do Supremo, de outros órgãos, de outras instituições. (…) Você que quer resolver o assunto por vezes, você pode até ter razão, mas o caminho não é fácil”. Duas semanas depois, operação da PF encontrou minuta de um decreto presidencial contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na casa do ex-ministro Anderson Torres.

Já após sua derrota no pleito de outubro do ano passado, Bolsonaro mudou de estratégia e começou a recorrer a mensagens dúbias e enigmáticas nas redes sociais. Foram 112 publicações, no Facebook e no Twitter, entre os dias 31 de outubro de 2022 e 12 de janeiro de 2023.

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