“Damares tem que responder pelo que falou”, diz ao DCM freira que combate violência sexual no Marajó

Irmã Marie Henriqueta Ferreira Cavalcanti foi alvo de fake news de bolsonaristas e fez um BO

Atualizado em 29 de outubro de 2022 às 11:45
Irmã Marie Henriqueta Ferreira Cavalcanti e a fake news que ela sofreu
Irmã Marie Henriqueta Ferreira Cavalcanti e a fake news que ela sofreu. Foto: Agência Pública/Reprodução

A irmã Marie Henriqueta Ferreira Cavalcanti é uma religiosa integrante da Comissão de Justiça e Paz do Regional Norte 2 da CNBB, que engloba Pará e Amapá. Ela também é presidente do Instituto de Direitos Humanos Dom José Luís Azcona, em Belém.

Seu nome é uma referência no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes na Ilha do Marajó.

Neste mês, respondendo às acusações falsas da ex-ministra e senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), Irmã Henriqueta afirmou à Agência Pública que ela “não protegeu as crianças de Marajó” e que desconhece ações da ex-ministra na região.

No dia 18 de outubro, o DCM TV entrevistou a Irmã Henriqueta. No mesmo dia, a religiosa estava fazendo um boletim de ocorrência por uso indevido de sua imagem em uma campanha bolsonarista.

Um perfil de TikTok chamado @victorsouza utilizou a imagem da defensora dos direitos humanos para justificar as falas de Damares.

O DCM conversou novamente com a Irmã Marie Henriqueta Ferreira Cavalcanti para esclarecer mais pontos.

Diário do Centro do Mundo: A senhora fez um BO sobre o uso indevido de imagem. Como está essa situação

Irmã Henriqueta: A minha fala e a minha imagem foram usadas em uma fake news. A ideia deles foi pegar um vídeo de um trabalho nosso feito pela rádio Margarida.

Esse vídeo foi editado para sustentar a fala absurda da ex-ministra. Tentaram juntar o meu trabalho com a informação errada dela.

Espero que as autoridades deem andamento ao meu BO. Fiz minha parte e jamais vou permitir que a minha imagem e a minha fala sejam usadas para qualquer fim. Não quero que isso seja usado sem minha autorização.

O que ela falou até o momento não tem comprovação. Vamos continuar monitorando essa repercussão. Damares tem sim que responder pelo que ela falou.

Foi uma grande violência contra nossa população do Marajó, especialmente as nossas crianças e os nossos adolescentes.

DCM: Irmã, a senhora disse que a população de Marajó se revoltou com as declarações da ex-ministra. Na semana seguinte, Bolsonaro afirmou que “pintou um clima” com mulheres venezuelanas. O governo tem uma perversidade com os mais pobres?

Irmã Henriqueta: Sim, as pessoas ficaram indignadas. A revolta da população é com toda a exposição feita pela ex-ministra. Isso atinge as nossas crianças marajoaras.

Isso revoltou as pessoas. Um menino me falou que isso foi muito cruel. Na semana seguinte, o presidente que é candidato à reeleição fez uma fala extremamente agressiva. É uma violência contra as nossas crianças quando ele usa essa expressão “pintou um clima”.

“Pintou um clima” é algo muito complicado pra uma pessoa em situação sensível. E é algo muito complicado para uma pessoa que se diz presidente da República.

Afirmar isso é tratar mal a população, principalmente mulheres e crianças. É tudo muito ruim.

DCM: A senhora afirmou que o programa Abrace, no Marajó, é ‘autoritário, racista e veio de cima para baixo’. Como era a situação antes desse governo?

Irmã Henriqueta: É um projeto que não teve participação popular. Consideramos que não trouxe benefício nenhum para a população local. Teremos que pensar formas de construir políticas locais que estejam voltadas para a população de fato.

A população marajoara é uma população que há décadas luta contra diversas dificuldades pela falta de ação dos governos, o que agrava a desigualdade social.

Com a pandemia, a situação se agravou ainda mais, sem qualquer providência realmente efetiva do governo. Damares falava em “instalar uma fábrica de calcinhas” para combater abusos sexuais. Esse programa Abrace é um cavalo de Tróia, sem qualquer participação da sociedade.

DCM: A senhora é presidente do Instituto de Direitos Humanos Dom José Luís Azcona. Tem esperança que um futuro governo Lula reverta esse cenário?

Irmã Henriqueta: Tenho certeza que todas as organizações de direitos humanos sentirão um grande alívio com as eleições se houver uma mudança. Quem defende os direitos humanos infelizmente não tem o seu trabalho reconhecido por esse presidente da República.

Com o candidato Lula eleito, eu tenho certeza que a primeira coisa que será melhorada é a questão das políticas voltadas para defesa das nossas crianças e adolescentes.

Também acredito que a população empobrecida da nossa região será beneficiada. Os olhares do governo serão diferentes para pessoas que têm prioridades diferentes dos privilegiados.

DCM: Irmã, você disse que não existe a ‘guerra espiritual’ propagandeada por Damares. Esse governo perverteu a religião?

Irmã Henriqueta: Não usaria essa expressão, porque ninguém perverte religião. Houve sim uma grande influência na religião e um aumento de novas igrejas para colocar os conceitos deles.

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