Israel acusa África do Sul de ser “braço jurídico” do Hamas

Atualizado em 11 de janeiro de 2024 às 11:21
Genocídio em Gaza

Israel criticou a África do Sul nesta quinta-feira (11), alegando que o país está agindo como o “braço jurídico” do Hamas, um movimento islamista palestino. Esta acusação veio após a queixa de “genocídio” na Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, relacionada ao massacre em Gaza.

Lior Haiat, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, classificou as acusações da África do Sul como “um dos maiores espetáculos de hipocrisia da história”.

O Tribunal Internacional de Justiça começou a apreciar nesta quinta-feira (11) a queixa apresentada pela África do Sul contra Israel.

Em causa está a reação israelense ao ataque iniciado pelo Hamas em 7 de outubro – dia em que o movimento radical palestino infiltrou militantes em território do Estado hebraico, causando a morte de 1.200 pessoas e raptando 250.

O ataque levou Israel a lançar uma contraofensiva aérea, terrestre e marítima sobre Gaza onde, além dos mortos e feridos, cerca de 2 milhões de pessoas sofrem crise humanitária sem precedentes, com o colapso de hospitais, o surgimento de epidemias e a escassez de água potável, alimentos, medicamentos e eletricidade.

Nesta primeira audiência do principal órgãos judicial da ONU, 15 juízes vão ouvir a argumentação sul-africana. O país defende que o tribunal decrete medidas de emergência, incluindo a ordem para que Israel cesse imediatamente as operações militares, bem como todos os “atos genocidas” descritos no pedido.

Pretória alega que considerando “o dano contínuo, extremo e irreparável sofrido pelos palestinos em Gaza, ao abrigo da convenção sobre o genocídio que continua a ser violada impunemente”, se impõe essa medida complementar.

A África do Sul diz que a guerra entre Israel e o Hamas viola a Convenção sobre o Genocídio de 1948. O tratado define genocídio como “atos cometidos com a intenção de destruir no todo, ou em parte, uma nação”.Os casos de genocídio, que são notoriamente difíceis de provar, podem levar anos para ser resolvidos.

Na apresentação do caso, Pretória enfatiza, em 84 páginas, a obrigação dos Estados partes – incluindo África do Sul e Israel – da Convenção de 1948 de tomar “todas as medidas razoáveis ao seu alcance para prevenir o genocídio”. Com isso, pediu ao tribunal que reconheça que Israel violou essa obrigação.

“Os atos e omissões de Israel, de que a África do Sul se queixa, são de caráter genocida porque se destinam a destruir parte substancial do grupo nacional, racial e étnico palestino”, afirma Pretória.

“A nossa oposição ao massacre do povo de Gaza levou-nos a abordar o TIJ”, afirmou nessa quarta-feira o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, sobre as acusações de genocídio, já rejeitadas por Israel e pelo seu principal aliado, os Estados Unidos.

“Como um povo que já provou os frutos amargos da desapropriação, discriminação, racismo e violência patrocinada pelo Estado, estamos certos de que ficaremos do lado certo da história”, acrescentou Ramaphosa.

Durante quase meio século, até 1994, a minoria branca da África do Sul impôs um regime severo à maioria negra, ao abrigo do sistema de separação racial do apartheid. A delegação sul-africana inclui o antigo líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, apoiador de longa data da causa palestina, mas cujo tempo como líder da oposição foi marcado por alegações de antissemitismo.

O partido no poder na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (ANC), tem longa história de comparação entre o tratamento dado por Israel aos palestinos e o tratamento dado aos negros sul-africanos durante o apartheid.